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CONTAS NO CARIBE
Ex-funcionário movimentou R$ 15,5 milhões a partir de aparelho instalado na liderança do PMDB no Senado
Fax liga ex-assessor de Renan a paraíso fiscal
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma conta bancária aberta no
paraíso fiscal da ilha Grand Cayman, no Caribe, que chegou a registrar R$ 11,1 milhões em depósitos, foi operada do Brasil por um
aparelho de fax instalado na sala
da liderança do PMDB no Senado, em Brasília, segundo papéis
obtidos pela Folha.
A conta, de número 650303, é
identificada pelo codinome "Pacto". Os papéis sugerem que o dinheiro foi transferido em 2003 para outra conta, de codinome
"ABCDHGFE", cujo saldo de investimentos chegou a R$ 15,5 milhões em 2004.
Extratos, autorizações para
compra de ações no exterior e relatórios bancários dos investimentos, num total de cem folhas,
entre originais e cópias, relacionam todas as operações ao ex-assessor do Senado Francisco Sampaio de Carvalho, 64.
Coordenador do programa de
modernização do Senado no biênio 95-96, ele trabalhou na liderança do PMDB quando o senador Renan Calheiros (AL) era o líder. Em 2005, foi levado por Calheiros para atuar na consultoria
do então presidente do Senado.
Dos papéis, cinco foram recebidos em maio de 2005 pelo fax da
Consultoria de Coordenação Técnica e Relações Institucionais da
presidência do Senado, onde Carvalho trabalhava.
Em meio à apuração desta reportagem, Carvalho pediu demissão no dia 16 de março (a Folha
recebera os papéis três dias antes).
Alegou "motivos de ordem pessoal". Seu salário era de R$ 17 mil.
Ele negou a autoria das assinaturas nos papéis e negou ter mantido, transferido recursos ou adquirido ações no exterior.
Cópias de documentos com assinaturas atribuídas ao ex-assessor foram submetidas ao perito
judicial e professor da Unicamp
Ricardo Molina. Em parecer preliminar, ele concluiu: "Não há
qualquer divergência significativa
que permita excluir a hipótese de
autenticidade das assinaturas. Ao
contrário, os elementos gráficos
passíveis de análise (...) apontam
para uma origem comum de todas as amostras, qual seja a do punho escritor do sr. Francisco Sampaio de Carvalho".
A leitura dos papéis permite reconstituir o caminho das operações. Os funcionários do "private
bank" -agência para clientes
com depósitos superiores a R$ 1
milhão- do Unibanco em Belo
Horizonte pediam autorização ao
cliente para adquirir no exterior
ações de empresas brasileiras. O
pedido era enviado, para receber
a assinatura de autorização, ao fax
da liderança do PMDB no Senado
ou à casa de Carvalho, em Brasília.
Autorizadas, as aquisições eram
feitas, num primeiro momento,
com recursos da conta "Pacto",
aberta no UBT (Unicorp Bank &
Trust Ltd.), uma subsidiária do
Unibanco sediada em Grand Cayman, ilha do Caribe.
No auge das atividades da "Pacto", em 4 de abril de 2002, o banco
apontou saldo de US$ 4,84 milhões em investimentos (R$ 11,1
milhões ao câmbio daquele dia).
A segunda conta bancária relacionada nos papéis a Carvalho foi
aberta no mesmo banco e operada nas mesmas circunstâncias.
Os recursos da "Pacto" podem
ter migrado para a segunda conta,
que adquiriu ações do mesmo rol
de empresas da primeira fase.
O conjunto de papéis também
indica supostas contas e operações financeiras em outros bancos no exterior. Anotação em
uma folha de agenda datada de 12
de janeiro de 2000 registra o número de uma conta no "Citibank-NY [Nova York]", 36013255, com
recomendações para uma transferência "em favor da conta nš
650303 codinome Pacto".
Um papel do banco Excel de
Nova York aponta o nome de
"Sampa" para identificar uma
conta cujo saldo era de US$ 117
mil no dia 29 de janeiro de 1999.
Um "aviso de confirmação de
depósito" datado de julho de 1989
anota valor de US$ 158,8 mil numa conta aberta no Bank of America de Miami (EUA). O nome da
conta é "Boaviagem", abaixo do
qual aparece o nome de "Francisco Sampaio". O ex-assessor do Senado nasceu no município de Boa
Viagem, no Ceará.
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