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JANIO DE FREITAS
A curva do cansaço
Senadores petistas devem decidir entre posição que Lula rejeita ou submissão que nega identidade a seu petismo
SEJAM QUAIS forem as reflexões
a que os senadores petistas, na
previsão de Eduardo Suplicy,
se entregaram no fim de semana, o
PT viverá hoje um momento muito
mais decisivo para o seu futuro do
que para a sua prevista definição
ante o senador José Sarney e a desordem no Senado.
A impressão dos senadores petistas de que as pressões de Lula lhes
exigem definir-se "entre a governabilidade e a reforma do Senado,
com a licença de Sarney", é o dilema
enganoso. Quando, na reunião
pressionante com Lula, Aloizio
Mercadante advertiu que, apesar da
"governabilidade", "precisamos
respeitar a posição da bancada, não
dá para enquadrar", aí já se insinuava a contradição verdadeira para a
opção petista. O mesmo quando
Paulo Paim sustentou, depois da
reunião, que "não houve enquadramento, continuamos defendendo a
licença temporária de Sarney e a reforma do Senado".
Já o "vamos refletir até a próxima
terça-feira", de Eduardo Suplicy,
incluía o dilema posto por Lula: "vamos refletir" é, sem dúvida, entre o
apoio a Sarney sob o nome de "governabilidade", dado por Lula, ou o
"não dá para enquadrar" assim a
maioria da bancada.
A rigor, o dilema que os senadores petistas devem decidir em reunião prevista para hoje é entre a posição que tomaram, e Lula rejeita,
ou a provavelmente derradeira submissão vexaminosa que nega ao seu
petismo qualquer identidade partidária e pessoal.
A senadora Marina Silva tem razão na advertência de que as posições de agora, no Senado, vão influir nas eleições para renovação de
mandato e para governos estaduais.
Ideia adotada no noticiário como
explicação para a quase unânime
atitude da bancada pela licença de
Sarney por 30 dias. Há, porém, outra explicação possível.
Nesse grupo estão petistas presentes entre os que mais construíram identidades pessoais no passado, em alguns casos longo e de atividade intensa. Em graus variados,
depois todos fizeram concessões
onerosas ao transformismo de Lula. Já, no entanto, a candidatura do
petista acriano Tião Viana à Presidência do Senado, derrotado pela
articulação Renan-Lula-Sarney,
continha sinais de uma atitude própria de parte da bancada do PT. Como consequência dessa interferência de Lula, seguindo a criação só na
Presidência da candidatura presidencial do partido, e outras muitas
prepotências de Lula, parece ter
evoluído um cansaço das complacências, refletindo-se como fator
preponderante na resistência incipiente das últimas semanas.
A esse cansaço, aí sim, em um ou
outro caso de pretendente a governo
estadual junta-se a insatisfação com
as insinuadas interferências de Lula,
em sucessões estaduais, tal como fez
com Dilma Rousseff. O fato é que
nunca se viram caras e declarações
como as expostas depois da reunião
com Lula, também ela com inconclusão sem precedente.
Nada exclui uma solução imprevista dos petistas, mas isso exigiria
algo há muito retirado do PT: a criatividade. As concessões tomaram
seu lugar.
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