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Entrevista da 2ª
Caleb McCarry
Coordenador da transição quer cubanos informados
Segundo americano, os EUA darão aos cubanos subsídios para decidir o futuro
Coordenador da transição quer cubanos informados
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O FICIALMENTE , ele é o coordenador da
Comissão de Assistência para uma Cuba
Livre, órgão do Departamento de Estado
criado por George W. Bush e a secretária
Condoleezza Rice em 2003 para "cuidar da transição
de Cuba para a democracia", mesmo antes de Fidel
Castro dar qualquer sinal de que deixaria o poder.
Extra-oficialmente, é o que analistas chamam de "o
Paul Bremer de uma Cuba sem Fidel", referência ao
enviado de Bush que comandou o Iraque pós-invasão.
Para o "Granma", órgão de imprensa oficial de Cuba,
ele é "o procônsul de Bush para a anexação de Cuba".
Na tarde de sexta, enquanto Condoleezza Rice gravava a mensagem ao povo cubano, McCarry deu uma
entrevista exclusiva à Folha.
FOLHA - O sr. tem se mantido longe dos holofotes nos últimos cinco
dias, sem dar entrevistas ou fazer
declarações públicas. O que o sr. está fazendo?
MCCARRY - Obviamente fazendo o que nosso governo prometeu, que é estar preparado para
respeitosamente oferecer nosso apoio total a uma transição
democrática genuína em Cuba.
FOLHA - Ok, mas o sr. tem falado
com suas fontes em Cuba ou entre
os grupos de exilados em Miami?
MCCARRY - Sim, estamos monitorando a situação de muito
perto e continuamos a acompanhar o desenrolar dos fatos...
Ok, não é só isso. A comissão é
um órgão interagências dentro
do governo dos EUA, e o nosso
objetivo é preparar nosso governo para estar habilitado a
prover apoio aos cubanos para
um momento de mudança, em
que eles poderão comandar seu
próprio país para uma transição genuína que leve a uma
eleição livre e democrática.
FOLHA - Qual será, então o primeiro passo da comissão no caso da
morte de Fidel Castro?
MCCARRY - Na verdade, nós não
estamos esperando que as coisas aconteçam, já estamos trabalhando muito ativamente
nesse momento, mandando
mensagens de apoio e esperança aos cubanos na ilha e nos
preparando para oferecer
apoio total dos EUA para um
governo de transição que esteja
comprometido a soltar prisioneiros políticos, restaurar liberdades fundamentais e convocar rapidamente eleições livres, justas e multipartidárias.
FOLHA - Os EUA terão relações diplomáticas com Raúl Castro, caso
ele seja eleito?
MCCARRY - (pausa) O processo
de transição, um processo que
tem de culminar em eleições
democráticas livres e justas, é
um processo que deve ser liderado por cubanos; somente os
cubanos podem definir seu futuro democrático e os cubanos
devem ter o direito de eleger
seus líderes livremente em Cuba. A imposição de Raúl Castro,
a imposição de outro ditador,
não é o suficiente.
FOLHA - Sim, mas os EUA estarão
dispostos a ter relações com quem
quer que seja o eleito pelos cubanos
numa escolha livre e democrática,
mesmo que essa pessoa tenha como sobrenome Castro?
MCCARRY - Claro, a política dos
EUA é apoiar um processo que
restaure a soberania do povo
cubano para eleições justas e livres. Esse é um problema para
que eles resolvam.
FOLHA - Mesmo que eles resolvam
por Raúl Castro?
MCCARRY - O povo cubano tem
o direito de definir seu futuro
democrático e o povo cubano
tem o direito de gozar das mesmas liberdades de que gozam
povos em países democráticos.
FOLHA - Muitos dizem que o sr. será o Paul Bremer de uma Cuba livre.
Qual sua resposta?
MCCARRY - Você sabe, isso é...
Isso... O contato com o povo cubano e o comando da comissão
deixam muito claro: os protagonistas aqui são o povo cubano. Eles que vão liderar seu
país... Cuba deve ser de e para
os cubanos e para eles apenas.
FOLHA - Um dos pontos principais
do plano já preparado por sua comissão é "minar a estratégia de sucessão" de Fidel Castro.
MCCARRY - Sim.
FOLHA - Como fazer isso sem ser
golpista, sem ser acusado de patrocinar um golpe de Estado? Ou como
responder à acusação de que os EUA
são um país estrangeiro interferindo
na soberania de outro país?
MCCARRY - Obviamente, os planos de sucessão da ditadura parecem estar delineados. (hesita) E o propósito de nossa política é se comunicar com os cubanos, para que eles contem
com os EUA enquanto eles procuram definir um futuro diferente. Um futuro em que eles
tenham uma transição, um futuro em que eles possam assegurar seus direitos básicos, um
futuro em que eles possam ir às
urnas e eleger livremente seus
líderes. Minar a estratégia de
sucessão, francamente... Não
há nada mais potente do que falar dos direitos dos cubanos,
que é o de escolher seu futuro.
FOLHA - Então o sr. está dizendo
que a arma principal da comissão
aqui é informação?
MCCARRY - Claro, informação.
Pois, como você sabe, Cuba é
uma sociedade fechada, em que
a informação independente é
banida, e a oposição e os que
discordam do governo são severamente punidos. Estamos
comprometidos em prover fontes de informações independentes aos cubanos e em apoiar
o direito dos cubanos de pensar
o que queiram.
FOLHA - Além de informação, com
que outra ferramenta importante a
comissão conta?
MCCARRY - Nesse momento, a
comissão está focalizada no futuro de Cuba. Nosso presidente, nossa secretária de Estado
estão ao telefone agora ligando
para todas as nações democráticas para se juntar e falar oficialmente e apoiar a restauração dos direitos democráticos
dos cubanos, de não ter outra
ditadura imposta, de eleger livremente seus líderes.
FOLHA - Seria, então, uma espécie
de coalizão?
MCCARRY - Exatamente. Há
uma responsabilidade especial
que todos nós temos, como nações democráticas de defender
o direito dos outros, particularmente por países que sofreram
tantos anos sob uma ditadura.
FOLHA - Uma das principais preocupações dos cubanos em Havana e
dos cubanos exilados em Miami e
seus herdeiros é a questão da propriedade. No caso de uma mudança
de regime, qual seria a posição dos
EUA? As casas desapropriadas pela
Revolução Cubana voltariam para
seus donos originais, como querem
os exilados?
MCCARRY - Em primeiro lugar,
e principalmente, nós queremos afirmar aos cubanos que o
que tem sido dito não é verdadeiro. Nós reconhecemos o direito dos cubanos de permanecerem em suas casas. Nós também sabemos que vai ser uma
questão difícil, mas acreditamos que os cubanos vão preferir que um governo eleito legítima e democraticamente cuide
dessa questão. Há vários modelos para lidar com essa questão
que podem ser emprestados de
outros países, de Estados que
deixaram de ser comunistas.
FOLHA - O presidente Bush disse na
quinta que os EUA estão "atentos
àqueles que, no atual regime cubano, obstruem o desejo do povo por
uma Cuba livre". Um dos pontos da
sua comissão é manter "listas atualizadas" de membros do regime
atual que teriam violado direitos humanos na ilha. Qual será afinal o uso
dessas listas?
MCCARRY - Isso é muito importante. O plano da comissão, no
tocante às forças militares cubanas, fala do fato de que nós
acreditamos que o povo cubano
vai apoiar a neutralidade política e o profissionalismo e a dignidade de suas próprias Forças
Armadas. E também é verdade
incontestável que há elementos das forças de segurança em
Cuba que orquestram ataques
vis à oposição e intimidam cidadãos. Estamos observando
isso, e os indivíduos envolvidos
em orquestrar esse tipo de ato
violento contra seus cidadãos
não terão direito de obter vistos
dos EUA.
FOLHA - Organizações de exilados
cubanos, como a Democracy Movement, estão dizendo que voltarão a
Cuba assim que Fidel morrer, com
ou sem os EUA. O sr. não teme que
se repita um êxodo em massa de
duas mãos, como nos anos 80 e 90?
MCCARRY - Obviamente, nossa
mensagem é: os cubanos devem permanecer em Cuba, estar lá, trabalhar pelo seu próprio futuro em Cuba, um futuro
melhor, um futuro democrático. Os EUA estão comprometidos a apoiá-los. Há uma necessidade humanitária enorme em
Cuba. O regime não conseguiu
suprir essas necessidades.
FOLHA - O que o sr. diz dos boatos
de que Fidel Castro está mal ou já teria morrido?
MCCARRY - (Não responde).
FOLHA - Desde a internação de Fidel, Raúl não fez nenhuma aparição
pública. O sr. tem informações sobre
seu destino?
MCCARRY - (Não responde).
FOLHA - Na possibilidade de Fidel
Castro voltar ao poder, o que sua comissão fará?
MCCARRY - Essa comissão olha
para o futuro, não para o passado. É tempo para todos nós, todos os que nos importamos
com Cuba e com o futuro do povo cubano, de fazer o mesmo,
de ajudar os cubanos a ter um
futuro melhor.
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