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JANIO DE FREITAS
Saudades da Idade Média
A produção mental do poder
voltou ontem ao seu melhor
nível. Em parte, com a idéia
de um fosso em torno do Congresso e, na parte complementar, com as propostas de um
certo Edward Amadeo, que
recebe vencimentos e mordomias próprias de ministro, para tratar o problema do desemprego com ilegalidades e
desumanidades.
O fosso imaginado pelo senador Antonio Carlos Magalhães é perfeito como evocação, nestes nossos dias de falso
principado, dos tempos medievais, com sua gente dividida entre os privilégios da nobreza encastelada e o
deus-dará dos restantes.
O túnel proposto, para que o
presidente da Câmara vá de
sua sala ao plenário sem, no
entanto, sofrer o contato com
cidadãos-eleitores-reivindicantes, não é um requinte, como parece. É uma necessidade
também ditada, assim como o
fosso, pelos mesmos sentimentos e propósitos sintetizados,
um dia, na declarada preferência pelo cheiro de cavalo.
As idéias, se podemos dizer
assim, de Edward Amadeo
afloraram com propriedade
no ambiente do falso principado. São a expressão mais
clara e absoluta da nostalgia
medievalesca.
Reduzir o FGTS recolhido
por empresas em suposta dificuldade, como proposta para
diminuir o desemprego, é, antes de mais nada, pretender
que aqueles que trabalham
paguem pelos que administram mal o próprio patrimônio. Idéia tipicamente medieval.
Mas não só. Primeiro, porque ninguém reabriria empregos extintos, só por estar pagando menos FGTS dos empregados. Logo, a proposta
não seria, como supõe o lamentável Amadeo, de combate ao desemprego, mas pretensamente atenuadora de futuras demissões. Nem isso chega
a ser, porém. Porque nada
prova, muito ao contrário,
que supostos apertos financeiros de empresas sejam a causa
do desemprego recordista e
crescente.
Suavizar a fiscalização das
empresas é incentivar a prática de ilegalidades. De crimes.
Feita por um ministro, é proposta muito interessante. Embora não por sua inteligência:
por sua indecência.
E o contrato coletivo de safra? Trata-se, com palavras
menos insinceras, de dar cobertura jurídica à exploração
dos bóias-frias. Institucionalizar a semi-escravidão. Ou escravização temporária.
O medievalismo de Edward
Amadeo faz lembrar que na
Idade Média se incendiavam,
como profilaxia, as casas onde a peste se manifestara. É o
caso do Ministério do Trabalho.
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