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INVESTIGAÇÃO
Vice de Ciro, que disse ser vítima de "armação política", quis prestar depoimento com a presença da imprensa
Paulinho depõe e ataca Serra e Anadyr
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em clima tenso e de muita confusão, Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho, vice de Ciro Gomes
(PPS) na disputa nacional, foi ouvido ontem pelo Ministério Público Federal sobre supostas irregularidades durante sua gestão na
Força Sindical.
Paulinho, que disse ser alvo de
uma "armação política" encabeçada pelo presidenciável José Serra (PSDB), foi acompanhado por
cerca de 500 pessoas munidas de
apitos, bandeiras e narizes de palhaço. Em frente ao edifício, quatro carros de som tocavam músicas a todo volume.
O clima tenso começou na entrada do prédio, quando a equipe
de Paulinho informou que ele não
iria depor sem a presença da imprensa. "Não tenho nada a esconder", disse o candidato, acatando
uma sugestão de seu advogado
Antonio Rosella, que cochichou a
frase em seu ouvido.
Alegando falta de espaço no gabinete, o pedido foi rejeitado pelo
procurador Célio Vieira da Silva,
que investiga o caso. Descontentes, o deputado João Herrmann
(PPS) e os advogados do sindicalista discutiram com o procurador. "A restrição é inconstitucional. Esse procurador está pirado",
disse o deputado aos berros.
Cerca de 40 minutos depois do
previsto, o depoimento de Paulinho começou em uma sala improvisada -protegida do ruído
dos alto-falantes.
O sindicalista disse desconhecer
o suposto superfaturamento da
fazenda Ceres, adquirida em abril
de 2001 por R$ 2,3 milhões -a
compra foi financiada pelo Banco
da Terra, programa federal. "O
preço máximo, segundo laudo,
seria de R$ 1,29 milhão", afirmou
o procurador. Paulinho reagiu:
"A Força Sindical não compra e
não vende terras. Nunca assinei
documento para liberar nada".
Ao final da audiência, o procurador entregou à imprensa cópias
de uma proposta de financiamento para a aquisição de uma outra
fazenda, assinada por Paulinho. A
folha tem o timbre do Banco da
Terra. "Esse documento mostra
que a Força Sindical era o representante do Banco da Terra em
São Paulo", disse o procurador.
Ontem, Vieira da Silva afirmou
que não podia avaliar o depoimento de Paulinho. "Vou estudar
as declarações e, se necessário, intimá-lo mais uma vez."
Visivelmente nervoso, Paulinho
atacou a ministra-chefa da Corregedoria Geral da União, Anadyr
de Mendonça Rodrigues, o próprio procurador e a imprensa. Em
relação a Anadyr, que reprovou as
contas da Força Sindical, afirmou
ser ela uma "mulher mal-amada,
que varre para debaixo do tapete a
corrupção do governo federal".
Paulinho disse que o procurador é "imparcial" e que atua a
mando do governo. Na verdade, o
candidato, em sua crítica, quis dizer "parcial". "Estamos jogando
contra um adversário que controla o Ministério Público e a grande
imprensa. Querem ganhar a eleição na marra, mas não vão ganhar", afirmou Paulinho.
Após deixar o prédio da Procuradoria, Paulinho subiu no carro
de som. O discurso mais pesado
foi feito pelo deputado João Herrmann, que usava um nariz de palhaço. "Bandido, facínora e bandoleiro é o candidato do governo,
que está acostumado a destruir
biografias", disse o deputado.
Paulinho disse que irá processar
Anadyr, Vieira da Silva e a União
por danos morais. "À União vou
pedir R$ 1. Mas Anadyr e o procurador vão pagar caro."
Paulinho desafiou Serra a abrir
seu sigilo bancário. "Quero que
Serra prove como foi que entrou
pobre e saiu rico da Secretaria de
Planejamento do governo de
Franco Montoro, segundo disse
Bierrenbach." O sindicalista se
baseou em uma ação por danos
morais movido por Serra contra o
ministro do STM (Superior Tribunal Militar) e ex-deputado Flávio Bierrenbach. Na eleição de
1988, Bierrenbach disse que Serra
"entrou pobre da secretaria e saiu
rico". Após ser processado, o ex-deputado pediu, nos autos, que o
tucano apresentasse suas declarações bancárias. Serra recorreu.
Prescrito, o caso foi arquivado.
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