São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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INVESTIGAÇÃO

Vice de Ciro, que disse ser vítima de "armação política", quis prestar depoimento com a presença da imprensa

Paulinho depõe e ataca Serra e Anadyr

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em clima tenso e de muita confusão, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, vice de Ciro Gomes (PPS) na disputa nacional, foi ouvido ontem pelo Ministério Público Federal sobre supostas irregularidades durante sua gestão na Força Sindical.
Paulinho, que disse ser alvo de uma "armação política" encabeçada pelo presidenciável José Serra (PSDB), foi acompanhado por cerca de 500 pessoas munidas de apitos, bandeiras e narizes de palhaço. Em frente ao edifício, quatro carros de som tocavam músicas a todo volume.
O clima tenso começou na entrada do prédio, quando a equipe de Paulinho informou que ele não iria depor sem a presença da imprensa. "Não tenho nada a esconder", disse o candidato, acatando uma sugestão de seu advogado Antonio Rosella, que cochichou a frase em seu ouvido.
Alegando falta de espaço no gabinete, o pedido foi rejeitado pelo procurador Célio Vieira da Silva, que investiga o caso. Descontentes, o deputado João Herrmann (PPS) e os advogados do sindicalista discutiram com o procurador. "A restrição é inconstitucional. Esse procurador está pirado", disse o deputado aos berros.
Cerca de 40 minutos depois do previsto, o depoimento de Paulinho começou em uma sala improvisada -protegida do ruído dos alto-falantes.
O sindicalista disse desconhecer o suposto superfaturamento da fazenda Ceres, adquirida em abril de 2001 por R$ 2,3 milhões -a compra foi financiada pelo Banco da Terra, programa federal. "O preço máximo, segundo laudo, seria de R$ 1,29 milhão", afirmou o procurador. Paulinho reagiu: "A Força Sindical não compra e não vende terras. Nunca assinei documento para liberar nada".
Ao final da audiência, o procurador entregou à imprensa cópias de uma proposta de financiamento para a aquisição de uma outra fazenda, assinada por Paulinho. A folha tem o timbre do Banco da Terra. "Esse documento mostra que a Força Sindical era o representante do Banco da Terra em São Paulo", disse o procurador.
Ontem, Vieira da Silva afirmou que não podia avaliar o depoimento de Paulinho. "Vou estudar as declarações e, se necessário, intimá-lo mais uma vez."
Visivelmente nervoso, Paulinho atacou a ministra-chefa da Corregedoria Geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues, o próprio procurador e a imprensa. Em relação a Anadyr, que reprovou as contas da Força Sindical, afirmou ser ela uma "mulher mal-amada, que varre para debaixo do tapete a corrupção do governo federal".
Paulinho disse que o procurador é "imparcial" e que atua a mando do governo. Na verdade, o candidato, em sua crítica, quis dizer "parcial". "Estamos jogando contra um adversário que controla o Ministério Público e a grande imprensa. Querem ganhar a eleição na marra, mas não vão ganhar", afirmou Paulinho.
Após deixar o prédio da Procuradoria, Paulinho subiu no carro de som. O discurso mais pesado foi feito pelo deputado João Herrmann, que usava um nariz de palhaço. "Bandido, facínora e bandoleiro é o candidato do governo, que está acostumado a destruir biografias", disse o deputado.
Paulinho disse que irá processar Anadyr, Vieira da Silva e a União por danos morais. "À União vou pedir R$ 1. Mas Anadyr e o procurador vão pagar caro."
Paulinho desafiou Serra a abrir seu sigilo bancário. "Quero que Serra prove como foi que entrou pobre e saiu rico da Secretaria de Planejamento do governo de Franco Montoro, segundo disse Bierrenbach." O sindicalista se baseou em uma ação por danos morais movido por Serra contra o ministro do STM (Superior Tribunal Militar) e ex-deputado Flávio Bierrenbach. Na eleição de 1988, Bierrenbach disse que Serra "entrou pobre da secretaria e saiu rico". Após ser processado, o ex-deputado pediu, nos autos, que o tucano apresentasse suas declarações bancárias. Serra recorreu. Prescrito, o caso foi arquivado.


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