São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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JANIO DE FREITAS

A face ou as garras


A eleição ainda pede algum tempo mais para mostrar com clareza a sua face, a uns, e as suas garras, a outros

SE CONFRONTADO com o poder eleitoral atribuído à sua aprovação popular, e do qual ele próprio se mostrou convicto, Lula sai do primeiro turno municipal com uma derrota que, só por grande e improvável soma de êxitos, no segundo turno, poderia tornar desimportante. Em termos políticos, mais que dos resultados localizados, o efeito insuficiente dos seus empenhos trouxe um clareamento significativo: desinflou o bicho-papão eleitoral que estava condicionando todas as prospecções políticas para a eleição presidencial em 2010.
O problema de Lula em relação ao segundo turno é, portanto, muito maior do que as implicações normais do perde-ganha eleitoral. Antes de tudo, trata-se de aferir os riscos existentes em cada uma das situações a que deveria acorrer. Lançar-se ainda mais no apoio a Luiz Marinho em São Bernardo, integrar-se à luta de Marta, por exemplo? O que será no caso de perder? Ou ao menos a vitória em um atenuaria a derrota no outro? Mas, sem dúvida, não enfrentar o desafio em São Paulo, depois de tanto dar a eleição da companheira Marta como indispensável, seria uma retirada com custos muito altos.
O resultado do primeiro turno em São Paulo tem, em princípio, mais sentidos para Lula do que, como está fartamente afirmado, para José Serra. Sobre Lula recaem conseqüências práticas imediatas, múltiplas e complexas. Para Serra, embora o fortalecimento político, os efeitos mais importantes são reflexos a se confirmarem no futuro.
Sobre tal futuro, convém aguardar para ver que capítulo Serra consultará, na busca dos próximos êxitos, da sua bíblia particular -o "Método Confuso para Todos os Usos". Inclusive porque estas eleições, como se mostram até agora, não têm como alcançar toda a influência na sucessão presidencial que, entre os comentaristas, lhe é atribuída. A força política dos municípios decaiu a nível muito baixo.
O PMDB está aí para recomendar-nos certa moderação, ao considerar resultados e influências destas eleições. Em termos gerais, está bastante dito que "o PMDB é o grande vitorioso", com as 1.195 prefeituras conquistadas, contra 781 do PSDB e mais do dobro das 548 que vêm engordar o PT. O PMDB seguiu a sua tradição municipal: o maior total de votos e o maior número de prefeituras. Mas, como se passa há tanto tempo, nem por isso é uma opção ou uma perspectiva de poder. Coadjuvante, e conformado: com todos os seus números, não tem nem sequer um nome a apresentar a sério na sucessão presidencial.
Quem não consagra o PMDB transfere ao PT o grande êxito, em número de prefeituras. O crescimento é real, com agradecimentos ao Bolsa Família. Mas o PMDB oferece o ensinamento de que essa vitória política é relativa, sujeita a muitas e imprevisíveis condicionantes. A começar de sua situação geográfica e da voz política que de lá possa emitir.
Como toda eleição majoritária, também a de agora pede algum tempo mais para mostrar com clareza a sua face, a uns, e as suas garras, a outros.


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