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Tortura Nunca Mais pede fim do
"sigilo eterno" para documentos
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Uma nota divulgada ontem pelo
Grupo Tortura Nunca Mais do
Rio pede a revogação do decreto
4.553, que assegura o sigilo de documentos de um órgão público
por tempo indefinido, e repudia a
criação da comissão interministerial criada para localizar os restos
mortais dos militantes que lutaram na guerrilha do Araguaia.
Segundo o Tortura Nunca
Mais/RJ, a comissão "representa
clara proteção àqueles que prenderam, assassinaram e desapareceram com os opositores políticos
ao regime ditatorial". A nota foi
levada ontem a uma audiência
pública realizada na Comissão de
Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados.
O decreto, editado por Fernando Henrique Cardoso em sua última semana de governo, não foi
revogado pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Ele amplia o
prazo de sigilo dos documentos
públicos (reservado, confidencial,
secreto e ultra-secreto). No caso
dos ultra-secretos, eleva o prazo
para 50 anos, com renovação por
tempo indeterminado. Ao estabelecer o prazo indefinido, o decreto
contraria a Lei de Arquivos (8.159,
de 1991), que fixa o tempo máximo de sigilo de documentos em
60 anos. Isso o tornaria ilegal.
O Tortura Nunca Mais/RJ também pede o cumprimento da decisão judicial que determina a
abertura dos arquivos da guerrilha -movimento armado organizado pelo PC do B na região sul
do Pará e norte de Tocantins a
partir de 1966 e extinto pelas Forças Armadas de 1972 a 1975.
O governo federal recorreu da
decisão judicial e criou a comissão
-sigilosa, formada por membros do governo federal e sem a
participação de parentes de mortos e desaparecidos políticos.
"Queremos o fim da comissão
interministerial e vamos buscar
apoio de outras entidades", disse
Cecília Coimbra, vice-presidente
do grupo Tortura Nunca Mais/RJ.
Sem interesse
Para o grupo, as medidas do governo federal mostram que ele
não tem interesse em achar os
corpos. "Se essa é a verdadeira intenção do governo, deveria, imediatamente, revogar o decreto nš
4.553, que coloca o Brasil em absoluto atraso perante a comunidade internacional, na medida
em que viola o direito fundamental de acesso à informação (...)",
afirma a nota.
O secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, disse que
o governo federal ainda não definiu uma posição sobre o decreto
do sigilo. Afirmou também que a
comissão não será extinta e agirá
para localizar os corpos.
"Os familiares vão ver que o esforço do governo é sincero e efetivo para chegar aos corpos. Quando começarmos a alcançar isso,
terá um grande efeito nessa luta
histórica pelo resgate desse direito", declarou o ministro.
Segundo ele, o governo formará
um banco de DNAs e uma comissão de antropologia forense para
auxiliar na localização e na identificação dos corpos.
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