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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Integrantes de suposto esquema de venda de sentenças judiciais teriam casas em condomínios luxuosos na Flórida (EUA)

Polícia descobre imóveis no exterior

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal diz ter identificado imóveis e remessas de dinheiro para o exterior feitas por suspeitos investigados na Operação Anaconda.
Correspondência apreendida na casa de Norma Cunha, ex-mulher do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos e presa na semana passada, informa que o Ministério Público da Suíça bloqueou os recursos de uma conta corrente naquele país no dia 8 de abril.
Os dados foram divulgados ontem pelo porta-voz da operação, delegado federal Reinaldo de Almeida César. Já foi concluída a análise dos documentos encontrados nas casas de Rocha Mattos e do empresário Sérgio Chiamarelli Júnior. A PF prevê encerrar amanhã a avaliação do material apreendido na casa de Cunha.
A Folha apurou que os imóveis encontrados se localizam em Kimisse, cidade próxima a Orlando, nos EUA. Trata-se de uma região de condomínios luxuosos.
"Chama a atenção da equipe de análise que aparecem viagens realizadas para o Uruguai e para a Suíça, algumas de período muito curto, de dois dias apenas", disse o porta-voz da operação.
A PF também localizou placas de carro utilizadas exclusivamente por membros de corpo diplomático. A Folha apurou que pertencem ao consulado de El Salvador em São Paulo. Todas as informações foram repassadas antecipadamente para as procuradoras federais Janice Ascari e Ana Lúcia Amaral que se encontraram com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, durante dois dias seguidos.
O material é analisado por um grupo restrito de policiais do Departamento de Inteligência Policial. Os documentos são mantidos em sala com rigoroso sistema de segurança. Não foram feitas cópias da documentação.
Segundo César, "já foram detectadas incompatibilidades de ganhos com declarações prestadas ao Fisco". A Folha apurou que Cunha, ex-auditora fiscal, cuidava do Imposto de Renda de membros da suposta quadrilha.
Rocha Mattos e Cunha são investigados na Operação Anaconda por supostamente integrarem um grupo especializado na venda de decisões judiciais e no retardamento de investigações federais. Fariam parte dessa quadrilha, ainda, os juízes federais Ali Mazloum e Casem Mazloum.
Completou-se ontem uma semana da ação operacional. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão e oito prisões, nas cidades de São Paulo e Maceió (AL). Internamente, a PF já chama esse período de primeira fase da operação. Com a apreensão dos 1.300 kg de documentos e equipamentos, os investigadores identificaram ramificações da quadrilha em outros Estados.
Hoje, a PF deve encaminhar um relatório preliminar de análise do material para os 18 desembargadores do Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP). Os dados servem para embasar pedidos de prisão dos três magistrados federais e de quebra dos sigilos bancário e fiscal dos suspeitos. A polícia quer cruzar depósitos nas contas deles com eventuais decisões judiciais consideradas polêmicas.
Após dias analisando documentos, a PF chegou a "novas empresas e novos nomes", disse César. Ao menos um parlamentar estaria envolvido com o grupo.
A análise dos documentos termina em dez dias, na avaliação do delegado. Durante esse tempo, os investigadores tentam identificar vozes em gravações e nomes envolvidos. Há dificuldades, ainda, na identificação de alguns laranjas e intermediários citados.
O porta-voz negou ontem a apreensão, na casa de Cunha, de fitas contendo gravações relacionadas ao assassinato do petista Celso Daniel, prefeito de Santo André morto em janeiro de 2002. No ano passado, Rocha Mattos determinou a destruição do material, mas disse há dias que as fitas estariam com sua ex-mulher.


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