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OPERAÇÃO ANACONDA
Integrantes de suposto esquema de venda de sentenças judiciais teriam casas em condomínios luxuosos na Flórida (EUA)
Polícia descobre imóveis no exterior
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal diz ter identificado imóveis e remessas de dinheiro para o exterior feitas por
suspeitos investigados na Operação Anaconda.
Correspondência apreendida
na casa de Norma Cunha, ex-mulher do juiz federal João Carlos da
Rocha Mattos e presa na semana
passada, informa que o Ministério Público da Suíça bloqueou os
recursos de uma conta corrente
naquele país no dia 8 de abril.
Os dados foram divulgados ontem pelo porta-voz da operação,
delegado federal Reinaldo de Almeida César. Já foi concluída a
análise dos documentos encontrados nas casas de Rocha Mattos
e do empresário Sérgio Chiamarelli Júnior. A PF prevê encerrar
amanhã a avaliação do material
apreendido na casa de Cunha.
A Folha apurou que os imóveis
encontrados se localizam em Kimisse, cidade próxima a Orlando,
nos EUA. Trata-se de uma região
de condomínios luxuosos.
"Chama a atenção da equipe de
análise que aparecem viagens realizadas para o Uruguai e para a
Suíça, algumas de período muito
curto, de dois dias apenas", disse
o porta-voz da operação.
A PF também localizou placas
de carro utilizadas exclusivamente por membros de corpo diplomático. A Folha apurou que pertencem ao consulado de El Salvador em São Paulo. Todas as informações foram repassadas antecipadamente para as procuradoras
federais Janice Ascari e Ana Lúcia
Amaral que se encontraram com
o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, durante dois dias seguidos.
O material é analisado por um
grupo restrito de policiais do Departamento de Inteligência Policial. Os documentos são mantidos em sala com rigoroso sistema
de segurança. Não foram feitas
cópias da documentação.
Segundo César, "já foram detectadas incompatibilidades de ganhos com declarações prestadas
ao Fisco". A Folha apurou que
Cunha, ex-auditora fiscal, cuidava
do Imposto de Renda de membros da suposta quadrilha.
Rocha Mattos e Cunha são investigados na Operação Anaconda por supostamente integrarem
um grupo especializado na venda
de decisões judiciais e no retardamento de investigações federais.
Fariam parte dessa quadrilha,
ainda, os juízes federais Ali Mazloum e Casem Mazloum.
Completou-se ontem uma semana da ação operacional. Foram
cumpridos 15 mandados de busca
e apreensão e oito prisões, nas cidades de São Paulo e Maceió
(AL). Internamente, a PF já chama esse período de primeira fase
da operação. Com a apreensão
dos 1.300 kg de documentos e
equipamentos, os investigadores
identificaram ramificações da
quadrilha em outros Estados.
Hoje, a PF deve encaminhar um
relatório preliminar de análise do
material para os 18 desembargadores do Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP). Os dados servem para
embasar pedidos de prisão dos
três magistrados federais e de
quebra dos sigilos bancário e fiscal dos suspeitos. A polícia quer
cruzar depósitos nas contas deles
com eventuais decisões judiciais
consideradas polêmicas.
Após dias analisando documentos, a PF chegou a "novas empresas e novos nomes", disse César. Ao menos um parlamentar
estaria envolvido com o grupo.
A análise dos documentos termina em dez dias, na avaliação do
delegado. Durante esse tempo, os
investigadores tentam identificar
vozes em gravações e nomes envolvidos. Há dificuldades, ainda,
na identificação de alguns laranjas e intermediários citados.
O porta-voz negou ontem a
apreensão, na casa de Cunha, de
fitas contendo gravações relacionadas ao assassinato do petista
Celso Daniel, prefeito de Santo
André morto em janeiro de 2002.
No ano passado, Rocha Mattos
determinou a destruição do material, mas disse há dias que as fitas
estariam com sua ex-mulher.
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