São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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MISÉRIA SUSPENSA

Habitantes de favela em Recife que será visitada por Lula na sexta vivem em situação de risco

Brasília Teimosa vive sob ameaça do mar

Léo Caldas/Agência Lumiar
Garoto joga bola na favela de Brasília Teimosa, local que Lula visitará com seus ministros na região metropolitana de Recife


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Os moradores que vivem nos barracos erguidos sobre estacas à beira-mar na comunidade de Brasília Teimosa, em Recife, acham que o maior problema que enfrentam não é a fome, mas a falta de uma habitação "digna" e de saneamento básico.
No local, que será visitado na sexta por Lula e seus ministros, vivem cerca de 3.000 pessoas em situação de pobreza e risco de morte, em 561 barracos.
Nas palafitas não há água encanada. A energia elétrica vem de ligações clandestinas. O esgoto escorre sobre a areia e deságua nas poças de água do mar onde brincam crianças.
Nos períodos de ressaca, ondas de até 2,5 m de altura ultrapassam o muro de contenção erguido em frente à favela e danificam, em média, cem barracos por ano, segundo o Conselho de Moradores de Brasília Teimosa. Cerca de dez são destruídos.
A lavadeira Silvânia Matias da Silva, 34, mora há 24 anos no local e já viu sua casa ser arrastada pelas ondas três vezes. Mesmo assim, ela insiste em permanecer no lugar. A insistência da lavadeira, entretanto, até agora só fez com que ela perdesse quase todos os seus móveis. Até o seu barraco diminuiu de tamanho - hoje, divide um espaço de cerca de 12 m2 com o marido desempregado, Fuad Sinval, 45, e os filhos Renato, 9, e Rosana, 11.
A família sobrevive com cerca de R$ 150 mensais obtidos com o trabalho da mulher e a venda de salgadinhos na praia. Silvânia diz que os filhos não comem como deveriam, mas que, apesar das dificuldades, "ninguém vai morrer de fome" na sua casa.
"Aqui na comunidade a maioria dos moradores pesca no mar. Um ajuda o outro e, no fim, todo mundo tem um peixe para comer", afirma. As famílias mais carentes ainda recebem cestas básicas de entidades governamentais e não-governamentais.
"O que o pessoal precisa mesmo é de uma casa com água e esgoto", diz a lavadeira. "Tendo uma habitação digna, a comida a gente consegue", afirma.
Um conjunto residencial começou a ser construído no bairro pelo governo estadual, mas as obras estão paradas. A Prefeitura de Recife, do PT, alega falta de verba para seus projetos de habitação e saneamento na região.


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