São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2004

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JANIO DE FREITAS

O lugar da decisão

Reunião presidencial para discutir assuntos econômicos - como a de ontem - pode ter quantos ministros Luiz Inácio da Silva deseje, mas, se ausentes os que pensam as decisões e as considerações do ministro Antonio Palocci, o que fique decidido e até determinado continua na dependência do que ache, na Fazenda, o grupo encabeçado por Joaquim Levy e Marcos Lisboa, secretários do Tesouro e de política econômica. Como complemento, embora a obviedade, pode-se acrescentar Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
Assim como a Fernando Henrique Cardoso coube fazer a cobertura política e pública para as definições da política econômica por Pedro Malan, Armínio Fraga e, antes deste, Gustavo Franco, segundo o mapa estabelecido pelo FMI, a Antonio Palocci cumpre a tarefa de fazer cobertura idêntica para os que formulam a política econômica do atual governo. E Lula dá a Palocci o amparo conveniente.
As divergências provocadas pela política econômica vêm de longe, sem que abalassem a sua continuidade. Mesmo se envolvendo o próprio presidente. Quando Lula, em junho do ano passado, comunicava ao país que ali começaria "o espetáculo do crescimento", fazia-o em razão das divergências, inclusive dele, que já pressentiam desgastes pesados para o governo com a política recessivista e seus previsíveis resultados ao final do ano. Nada mudou: os "pensadores" de Palocci pensavam de maneira diferente.
A reunião de ontem dá continuidade -sempre e em tudo a continuidade, uff- ao esforço propagandístico com que Lula tanto reiterou, em dezembro, a frase "2004 será o ano do crescimento". Esforço para aplacar a repercussão dos números oficiais que aí vêm, com o crescimento próximo de zero e outras dramáticas, para não dizer trágicas.
Diante do "ano do crescimento" e da reunião que o inicia, a lógica do governo indica que melhor crédito merece a advertência também reiterada, mas por Palocci e Guido Mantega, de que "o ajuste continua em 2004". Ou seja, em vez de crescimento e empregos e investimento público, mais continuidade.
Não é desimportante, mas também não é decisiva, a inquietação de alguns ministros com tal perspectiva. Mas sua mudança depende de que "os pensadores" de Palocci mudem -de endereço ou de idéias. Duas hipóteses muito improváveis, ambas.
Para compensar a política econômica, a política de propaganda. Esta, sim, com grande crescimento em 2003 e maior ainda, podemos esperar, em 2004.


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