|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
O lugar da decisão
Reunião presidencial para
discutir assuntos econômicos - como a de ontem - pode
ter quantos ministros Luiz Inácio da Silva deseje, mas, se ausentes os que pensam as decisões e as considerações do ministro Antonio Palocci, o que fique decidido e até determinado
continua na dependência do
que ache, na Fazenda, o grupo
encabeçado por Joaquim Levy e
Marcos Lisboa, secretários do
Tesouro e de política econômica. Como complemento, embora a obviedade, pode-se acrescentar Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
Assim como a Fernando Henrique Cardoso coube fazer a cobertura política e pública para
as definições da política econômica por Pedro Malan, Armínio Fraga e, antes deste, Gustavo Franco, segundo o mapa estabelecido pelo FMI, a Antonio
Palocci cumpre a tarefa de fazer
cobertura idêntica para os que
formulam a política econômica
do atual governo. E Lula dá a
Palocci o amparo conveniente.
As divergências provocadas
pela política econômica vêm de
longe, sem que abalassem a sua
continuidade. Mesmo se envolvendo o próprio presidente.
Quando Lula, em junho do ano
passado, comunicava ao país
que ali começaria "o espetáculo
do crescimento", fazia-o em razão das divergências, inclusive
dele, que já pressentiam desgastes pesados para o governo com
a política recessivista e seus previsíveis resultados ao final do
ano. Nada mudou: os "pensadores" de Palocci pensavam de maneira diferente.
A reunião de ontem dá continuidade -sempre e em tudo a
continuidade, uff- ao esforço
propagandístico com que Lula
tanto reiterou, em dezembro, a
frase "2004 será o ano do crescimento". Esforço para aplacar a
repercussão dos números oficiais
que aí vêm, com o crescimento
próximo de zero e outras dramáticas, para não dizer trágicas.
Diante do "ano do crescimento" e da reunião que o inicia, a
lógica do governo indica que melhor crédito merece a advertência também reiterada, mas por
Palocci e Guido Mantega, de que
"o ajuste continua em 2004". Ou
seja, em vez de crescimento e empregos e investimento público,
mais continuidade.
Não é desimportante, mas
também não é decisiva, a inquietação de alguns ministros com
tal perspectiva. Mas sua mudança depende de que "os pensadores" de Palocci mudem -de endereço ou de idéias. Duas hipóteses muito improváveis, ambas.
Para compensar a política econômica, a política de propaganda. Esta, sim, com grande crescimento em 2003 e maior ainda,
podemos esperar, em 2004.
Texto Anterior: João Paulo e Genoino divergem sobre PEC Próximo Texto: Reforma no Congresso: Câmara ganha novos monitores e elevador Índice
|