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Grampo da PF indica que Sarney usou jornal e TV para atacar grupo de Lago
Governador do MA também é acusado, por assessores de Sarney, de usar veículos de comunicação para ataques
Como as emissoras de TV são concessões públicas, a lei 4.117/62 proíbe seu uso para fins políticos; senador
não comenta a escuta da PF
LEONARDO SOUZA
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O senador José Sarney
(PMDB-AP) e seu filho Fernando Sarney aparecem em
uma escuta legal da Polícia Federal discutindo o uso de duas
empresas do grupo de comunicação da família -a TV Mirante
(afiliada da Rede Globo) e o jornal "O Estado do Maranhão"-
para veicular denúncias contra
seus rivais do grupo do governador Jackson Lago (PDT).
O Maranhão vive uma acirrada disputa política entre Sarney, eleito presidente do Senado na segunda-feira, e Lago
-que também é acusado pelo
grupo do senador de utilizar a
mídia local para atacá-lo.
Em uma das conversas, a cujo áudio a Folha teve acesso,
Sarney liga para seu filho pedindo que ele levasse à TV acusações contra Aderson Lago,
primo e chefe da Casa Civil do
governador Lago, que derrotou
a filha de Sarney, Roseana, em
2006. Como as emissoras de
TV operam por meio de concessão pública, a lei 4.117/62
veda seu uso para fins políticos.
O grampo foi feito pela PF
nos telefones de Fernando,
principal alvo da Operação Boi
Barrica, que apura movimentações financeiras de empresas
da família Sarney no período
eleitoral de 2006. Fernando sacou R$ 2 milhões nos dias 25 e
26 de outubro daquele ano, três
dias antes do segundo turno. O
senador não é alvo do inquérito. Procurados pela Folha, Sarney e Fernando não quiseram
se manifestar sobre o assunto.
Em um diálogo de 17 de abril
de 2008, os dois tratam de uma
denúncia publicada num blog
do Maranhão contra Aderson e
seu filho, Aderson Neto. Segundo o blog, Neto teria se envolvido em desvio de recursos
públicos de convênios firmados entre a Prefeitura de Caxias (MA) e o governo estadual.
Na conversa, Sarney manda
Fernando -que dirige o grupo
de comunicação da família-
levar ao ar na TV Mirante uma
reportagem sobre o caso, ressaltando que Aderson sempre o
atacou e que o insultou de "maneira brutal" num artigo. Fernando dá a entender que foi ele
quem vazou a informação contra Aderson para o blog, e que
já estava preparando reportagens sobre o tema tanto na TV
quanto no jornal da família.
Sarney provavelmente se referia a um artigo publicado por
Aderson no "Jornal Pequeno"
e em "O Imparcial", no dia 15
de maio de 2007. No texto,
Aderson chamou Sarney de
"velho oligarca" e disse que luta
contra o grupo do ex-presidente desde 1990, tendo feito "algumas das denúncias que mais
incomodaram aquele que desejou ser o dono do Maranhão".
Reportagem
No dia seguinte ao diálogo
entre Sarney e seu filho, "O Estado do Maranhão" publicou a
reportagem "Empresa sediada
no Rio recebeu verba pública
destinada a Caxias", sobre a denúncia contra Aderson e seu filho. Houve ainda duas outras
reportagens negativas a Lago
na semana seguinte. Lago diz
que a TV também fez matérias
sobre as denúncias. Como o site
da TV está fora do ar, não foi
possível consultar os arquivos
para verificar se isso ocorreu.
Aliados de Sarney, por seu
turno, acusam Lago da mesma
prática, utilizando veículos locais capitaneados pelo "Jornal
Pequeno". "Os veículos de comunicação a serviço do governador Jackson Lago, entre os
quais o "Jornal Pequeno", atacam a família Sarney de forma
irresponsável, criminosa e sistemática, mas nem por isso a
família Sarney usa seus veículos de comunicação para responder a essas calúnias", disse
a assessoria do senador, que
não quis comentar o grampo.
O deputado estadual Ricardo
Murad (PMDB), líder do bloco
de oposição ao governo estadual, vai ainda mais longe. Murad afirmou que Jackson Lago,
por meio da Secretaria de Comunicação do Estado, financia
diversos veículos de comunicação para atacar a família Sarney: "Com a exceção do sistema
Mirante, quase todos os veículos de comunicação do Estado
estão a serviço do governador.
Esses jornais, capitaneados pelo "Jornal Pequeno", são bancados pela Secom", disse Murad,
sem exibir provas.
Lourival Bogéa, diretor-geral
e sócio do "Jornal Pequeno",
rebateu as acusações: ""O Jornal Pequeno" é um veículo de
comunicação que tem uma
causa no Maranhão, que é a
causa da democracia política".
Aderson Lago também nega
as acusações: "Desde o primeiro dia do governo, eles tentam
nos atacar, seja pela televisão,
rádio, jornal ou blog", disse ele.
Segundo ele, aliados da família Sarney chegaram a pedir investigação ao Ministério Público Federal, sem sucesso. A Procuradoria da República no Maranhão confirmou que não há
procedimento sobre o assunto.
A Folha também não localizou
processos contra Aderson e seu
filho relacionadas ao caso.
Em 2001, Aderson ganhou
uma causa no STJ por "danos
morais" contra a Gráfica Escolar S/A, que edita "O Estado do
Maranhão". Segundo Lago, seu
filho foi tachado de "assassino"
após um acidente de carro.
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