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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS CASSAÇÕES
Relator pede cassação do ex-presidente da Câmara, mas manobra de Angela Guadagnin (PT-SP) deixa a decisão para amanhã
PT adia votação de relatório contra João Paulo
FÁBIO ZANINI
CYNTHIA GARDA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num relatório contundente de
68 páginas, o deputado Cezar
Schirmer (PMDB-RS), relator do
processo de cassação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), pediu ontem a perda de mandato do deputado no
Conselho de Ética. A votação do
relatório ficou para a semana que
vem após manobra da deputada
Angela Guadagnin (PT-SP).
Líder da tropa de choque do governo no conselho, a deputada
afirmara que não protelaria o processo, mas, atendendo a uma solicitação direta de João Paulo, ela
pediu vista. A tendência é que o
conselho aprove o parecer.
O relator lista dez fatos que incriminariam o petista e comprovariam seu envolvimento no esquema de financiamento ilícito
montado pelo publicitário Marcos Valério de Souza. Os principais referem-se à relação do petista com Valério e às várias versões
dadas para o saque realizado por
sua mulher numa agência do
Banco Rural, no valor de R$ 50
mil. Em nota divulgada à tarde,
João Paulo prometeu fazer um
"contra-relatório" e disse que "tudo tem e terá respostas".
Schirmer disse que João Paulo
"mentiu" ao explicar o motivo do
saque e que recebeu os recursos
"na mais absoluta clandestinidade" e para uso próprio: "O representado colocou seu interesse à
frente do interesse público".
Favorecimento
O relatório acusa o ex-presidente da Câmara de ter favorecido
Valério ao conduzir um processo
licitatório "eivado de irregularidades", para que uma de suas
agências, a SMPB, ganhasse a
conta de publicidade da Câmara
dos Deputados, em 2003: "De todos os processos analisados por
este conselho até agora, a materialidade dos fatos atribuídos ao representado é a mais indiscutível,
incontroversa, incontestável e indubitavelmente comprovada".
Schirmer vê conflito de interesse no fato de Valério ter feito a
campanha de João Paulo a presidente da Câmara no início de
2003 e, no final do mesmo ano, ter
ganho a conta da Casa. Ele presenteou o petista com uma caneta
Mont Blanc e sua secretária com
uma viagem: "Trata-se de favores
absolutamente fora dos padrões
normais de relacionamento".
O peemedebista descreve a seqüência de fatos que desemboca
na vitória da SMPB na licitação da
Câmara, mesmo tendo ficado em
último lugar em concorrência semelhante dois anos antes.
Em 3 de setembro de 2003, João
Paulo abriu uma exceção em sua
carregada agenda para receber
Valério em café da manhã. No dia
seguinte, sua mulher, Márcia, realizou o saque na agência do Rural
e em 15 de setembro foi lançado o
edital da concorrência. "Não é crível que tais fatos não tenham entre si conexão inexplicável e comprometedora". Para Schirmer, o
contato entre João Paulo e Valério
era "intenso".
O texto contorna a existência de
"mensalão" e toca no assunto
apenas de forma tangencial.
Schirmer deixa claro que mais
importantes são o caixa dois e
"condutas outras" incompatíveis
com o decoro parlamentar.
Um exemplo dessas condutas é
a caracterização do que seria a
"mentira" referente ao saque efetuado pela mulher do petista.
Schirmer vê omissão deliberada
por João Paulo quando disse que
sua mulher havia ido à agência
apenas pagar uma conta de TV.
Usando informações dos Correios, o peemedebista diz que seria impossível uma fatura emitida
pela empresa TVA no dia 2 de setembro ter sido enviada a Osasco
(SP) e depois de novo a Brasília
em tempo de ser paga em 4 de setembro. "Uma análise acurada
suscita estranheza e fragiliza o
pretexto que motivaria a ida de
sua portadora ao banco", diz. Segundo Schirmer, João Paulo enviou sua mulher ao banco para
manter o sigilo do saque.
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