São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Debate sobre como abrandar aquecimento global será acirrado

IPCC volta a se reunir no fim do mês na Tailândia para discutir medidas de mitigação, no caso do Brasil, haverá cobrança pelo desmatamento da Amazônia

Diego Azubel/EFE
Camponeses chineses da província de Hebei resolveram plantar árvores para tentar combater um dos efeitos do aquecimento global


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS

Uma vez provada a culpa do homem no aquecimento e analisados os impactos sobre o planeta, além das vulnerabilidades e das estratégias de adaptação, o debate sobre o clima passa à fase das ações de mitigação.
Entre 30 de abril e 3 de maio próximos, o Grupo de Trabalho 3 do IPCC se reúne em Bangcoc (Tailândia) para debater o que pode e precisa ser feito para reduzir as emissões de gás carbônico na atmosfera.
No relatório do grupo 2, divulgado em Bruxelas anteontem, o IPCC adverte que, mesmo num cenário de restrição das emissões, os impactos das mudanças climáticas ainda serão sentidos.
Isso significa que, sem mitigação, a situação é potencialmente bem catastrófica a longo prazo, como mostraram os cenários mais pessimistas divulgados pelos pesquisadores.
Pelos números que o IPCC publicou em fevereiro, para evitar o pior cenário possível em 2100 -um aumento maior que 4,5ºC na temperatura média global-, a humanidade precisa cortar pela metade a emissão de gás carbônico prevista para esse século.
Uma versão preliminar do relatório do grupo 3 obtida pela Folha mostra que os cientistas já estimam como evitar a emissão de até 40 bilhões de toneladas de gás carbônico até 2030.
Uma das idéias básicas é que as mudanças não podem ser apenas na política de geração de energia: indústria, agricultura e edificações [residências e comércio] vão precisar colaborar. Políticas para aumentar a eficiência do uso da energia também serão essenciais.
Outro ponto, mais controverso, é que as melhores oportunidades para cortar emissões estão nos países em desenvolvimento, já que sua infra-estrutura não está em construção. Nesse caso, a pressão será maior contra o Brasil e a China, principalmente.

Mais cobranças
Os ambientalistas prevêem que Bangcoc terá disputas ainda mais acirradas entre cientistas e políticos, já que os países serão cobrados por medidas para reduzirem suas emissões.
"Vai ser pior do que a reunião de Bruxelas", diz Karen Suassuna, técnica de mudanças climáticas do WWF Brasil.
"Energia, consumo de carvão, gás, petróleo e desmatamento estarão na pauta. E, apesar de o Brasil estar tranqüilo a curto prazo, na área de desmatamento vai haver cobrança, porque será o que a ciência acha que tem de ser feito para mitigar." A derrubada da Amazônia é o que tem peso maior nas emissões brasileiras.
Mas há também o bloco dos otimistas, como a brasileira Thelma Krug, uma das líderes do IPCC para inventários de gases do efeito estufa.
"O relatório de mitigação vai trazer muitos exemplos do Brasil, mostrar que não estamos de braços cruzados", diz Krug.
"Coisas que o país já fez e a importância que isso teve em reduzir emissões. Alguns dos capítulos do documento colocam o Brasil numa posição de muito destaque."
Não que as ações brasileiras de mitigação -como o uso de biocombustíveis- tenham tido origem em preocupações climáticas, muito pelo contrário. A questão aqui foi de cunho essencialmente econômico.
"Certamente não fizemos isso por causa da mudança do clima, mas muita coisa que os demais países estão fazendo também não são, ninguém pode ser hipócrita de dizer o contrário", disse Krug.
Do grupo que vai elaborar o terceiro relatório participam os brasileiros Roberto Schaeffer, economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a engenheira Suzana Kahn Ribeiro, que também é da mesma instituição carioca.
O encontro de Bangcoc será sucedido por outro em Valência (Espanha), entre 12 e 16 de novembro próximo, de onde saíra um relatório síntese dos três outros apresentados neste ano. Antes de 2007, a última série de documentos do IPCC sobre o clima do planeta havia sido publicada em 2001.


Texto Anterior: São Paulo expulsou seu santo para o Rio
Próximo Texto: Estudo cobra novo padrão de uso da energia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.