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JANIO DE FREITAS
Carochinha
A história está muito interessante, mas só vale como carochinha para adulto. O
que ali pode ser tomado como
verdadeiro é que entre Ricardo Sérgio de Oliveira e Benjamin Steinbruch, pelo menos estes dois, houve um negócio
de comissão e que ministros e
presidente estavam informados -inutilmente.
Para começar, comissões são
acertadas antecipadamente
ao que as motiva, não são cobranças que alguém decida fazer a qualquer altura, pelo serviço prestado. Não faz sentido
que só ano e meio depois desse
serviço, feito na montagem da
privatização da Vale do Rio
Doce, Ricardo Sérgio fosse
achacar Steinbruch e este corresse a queixar-se com Luiz
Carlos Mendonça de Barros.
Na versão da cobrança inopinada pode-se reconhecer a
conveniência de não indicar a
existência de interesses corruptos, na decisão do governo
de montar um grupo para disputar (e ficar) com a Vale.
Não faz sentido, também, o
corte que Mendonça de Barros
se atribui na conversa com
Steinbruch, ao ouvir sobre a
cobrança de Ricardo Sérgio:
"Nessa hora, pus um ponto final na conversa". Nem a mais
comum das pessoas escaparia
ao interesse pelo assunto. É
inimaginável que alguém vivendo entre negócios e política, reconhecidamente ácido nos comentários pessoais, dispensasse informações tão ao
gosto do seu meio e até de utilidade. Se a conversa foi tão
sucinta ("Nunca mais nos falamos depois disso, nem por
telefone"), como Mendonça de Barros saberia, agora, que a
comissão "não teria sido paga" mesmo depois do seu encontro com Steinbruch?
Seria completamente fora dos hábitos entre políticos e gente de negócios que o assunto, mesmo que transcorrido como Mendonça de Barros o narra, ficasse restrito a ele e, por sua informação, a Fernando Henrique Cardoso. Mendonça de Barros, em suas rearrumações da entrevista à "Veja", dá uma pista: "Porque todos sabíamos que o processo tinha se desenvolvido com lisura, nenhum de nós deu
maior importância ao episódio" (da denúncia de Steinbruch). "Nenhum de nós" para
se referir só a Fernando Henrique, já por si Mendonça de
Barros conta haver dado a devida importância, tanto que
levou o caso ao conhecimento
do presidente da República?
Acabou em melancólica
frustração a expectativa criada por Mendonça de Barros
para a entrevista que anunciou, com pormenores, para a
noite de segunda. A impressão
deixada foi a remendos urgentes -e inconvincentes, ainda
mais-, como se desejasse evitar o contra-ataque que se
anunciava no círculo de José
Serra e no governo. A intenção
mais evidente foi a de recompor-se com Serra e com Fernando Henrique, para isso,
entre outros feitos, atribuindo
a Steinbruch a iniciativa e a
plena responsabilidade pela
reportagem em que ele, Mendonça de Barros, entrou com a
voz e o elemento mais corrosivos.
Seu argumento, agora, de
que Steinbruch soltou a bomba por desejar novos favores
do governo é, no mínimo, contrário à lógica de que tal desejo
seria um motivo a mais para
não causar desagrados tão
graves.
De tudo, por ora fica o óbvio:
um caso a mais denunciador
da privatização e, claro, um
caso a mais de prevaricação
por recusa presidencial às providências devidas.
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