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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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REFORMAS

Para obter apoio dos congressistas, presidente prefere negociar com Estados do que dar agora ministério a peemedebistas

Ministério ao PMDB opõe Lula e Dirceu

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estratégia para aprovar as reformas previdenciária e tributária divide a cúpula do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeita dar logo um ministério ao PMDB e insiste em priorizar a negociação com os governadores para pressionar a Câmara, onde tramitam os projetos.
O ministro José Dirceu (Casa Civil) quer compor já com o PMDB para não depender muito dos governadores.
Nas últimas reuniões da cúpula do governo, pensou-se em romper com o PDT de Leonel Brizola, para tirar Miro Teixeira das Comunicações e dar a pasta ao PMDB. A outra saída discutida: tirar um ministro petista.
Lula resistiu às duas alternativas por vários motivos. Gosta de Miro e avalia que ele atua bem política e tecnicamente. Também deu à nomeação do pedetista caráter mais de cota pessoal do que de cota partidária. Acha complicado simplesmente tirar um petista em tão pouco tempo de governo. E a mais importante: teme entregar um ministério ao PMDB e continuar a depender do varejo parlamentar, já que o partido é o mais dividido da política brasileira.
Apoiado por ministros como Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Dirceu julga fundamental levar o PMDB para o primeiro escalão. Ainda que tivesse de negociar pesado no varejo (dar verbas e cargos a caciques e parlamentares sem intermediação institucional), o preço seria menor.
O PMDB tem 68 deputados. Hoje, Dirceu conta, no máximo, com 30 votos certos, apesar do esforço pró-governo do líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (CE). Com um ministério, esse número poderia ficar entre 45 e 55 votos na Câmara, crêem Dirceu e os líderes do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Por pragmatismo, um caminho para atrair o PMDB seria deixar piorar de vez as relações de Lula com Brizola e o PDT, partido que tem 16 deputados federais e que, na prática, está na oposição.
Miro seria compensado com outro posto importante e teria a desculpa ideal para sair: contrário à cobrança previdenciária de 11% dos servidores aposentados que ganham mais de R$ 1.058, o ministro alegaria motivo de consciência para entregar o cargo.
Demitir um petista seria mais fácil, tirando alguém que concorrerá a prefeito no ano que vem.
Até ontem, a posição de Lula era segurar Miro desde que ele não assuma publicamente ser contra a cobrança dos inativos, não demitir um petista e dar uma pasta ao PMDB na reforma ministerial prevista para dezembro.
Lula avalia que dar um ministério ao PMDB antes de votar as reformas traria desgaste na mídia, com a interpretação de pura barganha.
Os articuladores políticos acham que essa interpretação ocorrerá com ministério antes ou depois de votadas as reformas. O Planalto quer votar as propostas na Câmara até outubro.


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