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Ministério Público investiga testemunha no caso Dorothy
Promotor suspeita de depoimento mudado depois de fazendeiro pagar R$ 100 mil
Condenado por intermediar
assassinato de freira voltou
atrás e afirmou que Bida não
o havia procurado para
ordenar o crime em 2005
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
O Ministério Público do Pará
instalará um inquérito civil para investigar se Amair Feijoli da
Cunha, o Tato, condenado e
preso por intermediar o assassinato da missionária Dorothy
Stang em 2005, mudou seu depoimento no caso em troca de
cerca de R$ 100 mil.
Tato depôs na última segunda, isentando Vitalmiro Bastos
de Moura, o Bida, de ser o mandante do crime. Bida acabou
inocentado anteontem da acusação de homicídio duplamente qualificado por ter supostamente oferecido R$ 50 mil para
que Dorothy fosse morta, em
fevereiro de 2005.
Para Edson de Souza, promotor que liderou a acusação, esse
depoimento foi essencial para a
absolvição por 5 votos a 2, no
Tribunal do Júri.
Mesmo em seu próprio julgamento, em abril de 2006, quando foi sentenciado a 17 anos por
envolvimento no crime, Tato
incriminou Bida, dizendo que
ele de fato o procurou para que
conseguisse alguém que matasse a missionária. Mas, na última segunda-feira, como testemunha, Tato reformulou o que
havia dito há pouco mais de
dois anos. Além disso, confirmou a veracidade de um vídeo
apresentado pela defesa no Tribunal do Júri. A gravação, feita
em outubro de 2006, já o mostrava dizendo que Bida não havia ordenado morte nenhuma.
Na tribuna da última segunda-feira, chorando, ele disse
que havia então sido coagido a
dizer que o fazendeiro havia sido o mandante e que poderia
agora dizer a verdade pois havia
se tornado evangélico.
A suspeita da Promotoria
provém do fato de, ainda em
2006, nas vésperas do julgamento de Tato, sua mulher, Elizabete Coutinho, ter afirmado
em juízo que recebeu, pelo pagamento de dívidas, cerca de
R$ 100 mil de Bida. "E, depois
que o Tato foi condenado, ele
não tinha mais nada a perder",
afirmou o promotor Souza.
"Por que não mudar seu depoimento em troca do dinheiro?",
indagou ele, lembrando que
poucos meses depois o vídeo
em que o intermediário inocenta Bida foi gravado.
O fazendeiro confirmou que
fez o pagamento nesse momento e que ele foi parcelado e negociado por meio de um de seus
irmãos. Mas afirmou que o dinheiro foi para pagar bois que
Tato havia lhe passado como
parte de pagamento por terras
da região de Anapu (PA). "Os
promotores até diziam para ele
que, por isso, deveria mesmo
fazer a delação premiada, porque nunca mais iria receber o
dinheiro", disse Bida.
Souza se disse surpreso pelo
aparecimento do vídeo, anexado aos autos só na semana passada, e afirmou que até então
desconhecia sua existência. A
gravação, feita com o intermediário preso, não teve a autorização de nenhum juiz. Também questionou o porquê de o
vídeo não ter sido mostrado em
maio de 2007, quando, em seu
primeiro júri, Bida foi condenado a 30 anos. Para ele, isso pode
estar relacionado a uma suposta negociação com Tato.
O advogado do fazendeiro
disse que já conhecia a gravação e que ela não foi usada em
2007 porque, durante a acareação no julgamento, Tato afirmou a inocência de Bida. Souza
refutou: "A confirmação da culpa de Bida por Tato foi então
um dos principais motivos para
ele ter pego a pena máxima".
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