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"Se eu tivesse conhecido Dorothy, ela teria um amigo na região", afirma Bida
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Depois de ficar três anos e 39
dias preso sob a acusação de ter
mandado matar a missionária
Dorothy Stang e de ter cursado
a "faculdade do sofrimento e da
humilhação" na prisão, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida,
37, disse que poderia ter sido
amigo dela. "Se eu tivesse conhecido [Dorothy], pode ter
certeza que ela teria um amigo
na região", afirmou Bida.
Em entrevista à Folha na
tarde de ontem, menos de 24
horas após ser inocentado e
voltar para casa, o fazendeiro
disse que foi tão vítima quanto
a freira. "Ela foi vítima da morte, o rapaz matou ela, fez isso.
Aí depois eu fui vítima dela
[morte de Dorothy]", afirmou,
no escritório de seu advogado,
acompanhado por seus defensores e "amigos" vindos de Altamira (829 km de Belém).
"O que eu queria, se eu pudesse voltar atrás, se eu tivesse
conhecido a irmã Dorothy... Eu
tenho certeza que de mim ela
não tinha raiva e eu também
não teria raiva dela. Sou filho
de lavrador, meu pai é colono,
fui criado em área de assentamento. [A morte de Dorothy]
era uma coisa que não precisava ter acontecido. Estava todo
mundo tranqüilo", disse.
Questionado sobre o que diria se visse David Stang, irmão
de Dorothy, após sua absolvição, afirmou: "[Diria] que não
tive o prazer de conhecer a irmã dele, que eu estou sendo vítima dela, quer dizer, do problema que aconteceu, que não
tenho raiva dela, dele nem nada contra ninguém. Passei por
um revés de sorte, só pode ser".
Sempre citando a "justiça de
Deus", Bida disse que pensava
em Dorothy quando estava na
cela "pequena, abafada", onde
estava com outros três presos.
Absolvido, afirmou querer
passar uma semana só com a
mulher e os três filhos, em Belém, e depois ir para Altamira,
onde, disse, todos esperam seu
retorno. "O que tenho recebido
de ligação dizendo que estão
me esperando de braços abertos, que sou o mesmo que era!
Dizem que ninguém tem nada
de ruim para falar de mim."
Ele afirmou que pretende
continuar trabalhando com pecuária, desde que o Incra permita. Hoje, sua fazenda está desapropriada, segundo seu advogado. "Tem muita coisa irregular [no campo]. O governo, o
Incra, não faz a coisa justa. Se o
Incra indenizasse, não acontecia problema nenhum", disse.
Quando recebeu a notícia da
absolvição, ainda no banco dos
réus, Bida disse que sentiu só
um "alívio, a justiça aparecer",
e que não ficou surpreso, como
boa parte da platéia. "Eu acreditava toda a vida na verdade. A
psicóloga da penitenciária dizia: "Vitalmiro, você acredita
muito na sua absolvição". E eu
dizia: "Doutora, eu espero ser
absolvido, porque a verdade
tem de vir à tona". E a verdade é
essa. O outro lado da história."
Para ele, a culpa pelo tempo
em que esteve preso é da delação premiada, que influiu nos
depoimentos dos três já condenados -ao menos uma vez, disseram que Bida era o mandante. Ele afirmou que "ainda" não pensa em processar o Estado.
"Primeiro, quero minha liberdade", disse, sorrindo.
(JCM)
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