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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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JUROS

Lula chega a acordo com Alencar sobre críticas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de duas semanas de altos e baixos num relacionamento que até agora havia sido bom, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice José Alencar, chegaram a um acordo para diminuir as críticas do número 2 do governo à política econômica.
Alencar deverá diminuir, aos poucos, o tom duro de seu discurso contra os juros altos. Em troca, Lula disse aos principais auxiliares que terão de conviver com Alencar e seu estilo, já que ele foi eleito e não é demissível.
Lula e seus assessores, porém, não têm segurança sobre o comportamento do vice. Em outras oportunidades, ele já havia indicado que baixaria o tom de suas críticas, só que tomou exatamente o caminho contrário.
Caso José Alencar retome as críticas, Lula e alguns assessores acreditam que o melhor caminho será deixá-lo "falar sozinho". Os que defendem essa linha lembram que o mercado já não leva em conta as críticas do vice-presidente, por ter percebido que ele não tem nenhum poder sobre a política econômica.
O petistas temiam também que os insistentes ataques do vice acabariam desgastando o presidente, enquanto José Alencar ficaria com a imagem de defensor dos juros baixos. Esse temor diminuiu com a divulgação de pesquisa mostrando que melhorou a popularidade do presidente.
A leitura dos dados é que Lula não só manteve, como melhorou sua imagem, exatamente por ter conseguido controlar o processo inflacionário. O desgaste viria se a inflação estivesse em alta. O resultado fortaleceu o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Outro comentário dentro do governo é o fato de o próprio grupo do vice-presidente, o meio empresarial, não estar totalmente fechado com o estilo dele.
Na semana passada, chegou a ser ensaiada por empresários uma campanha pela internet em defesa do vice-presidente. O resultado, porém, não foi de total apoio ao dono da Coteminas.
O presidente Lula chegou a receber mensagens de empresários dizendo que são contra os juros altos, mas afirmando que não concordam com o comportamento do vice, que prejudicaria o governo no combate à inflação.
Estaria afastada, na opinião de assessores de Lula, uma união das grandes lideranças empresariais em torno do vice para pressionar publicamente o Banco Central a baixar os juros.
Dentro do governo, a pergunta que se fazia era que motivos levaram o vice a fazer seus ataques. Um sempre lembrado é o político: José Alencar planeja disputar o governo de Minas no futuro.

Estratégia
Mantendo sua campanha contra os juros altos, ele estaria fortalecendo sua imagem pública como um defensor não só dos empresários, mas também dos trabalhadores, por causa do aumento do desemprego.
Alguns assessores do presidente chegaram a levantar a hipótese de José Alencar estar contrariado com o governo. Por várias razões. Uma delas seria a informação de que assessores de Lula se preparavam para retaliá-lo, divulgando dados negativos sobre sua empresa à imprensa.
Auxiliares do vice afirmam que essa tática já teria sido usada quando ele se reuniu com Palocci no Ministério da Fazenda, levando junto um balanço de sua empresa, a Coteminas.
Outra razão para o vice estar chateado seria o fato de não participar das decisões de governo. Foi assim nas críticas à reforma tributária, quando não foi chamado a dar sua opinião. Para contornar esse problema, Lula decidiu dar tarefas de governo a Alencar.
O próprio vice-presidente confidenciou anteontem que pretende começar a falar de outros assuntos. Saindo de campo de forma nem tão apressada, que pareça recuo, nem tão vagarosa, que pareça provocação. (VALDO CRUZ e KENNEDY ALENCAR)


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