São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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ESCANDÂLO DO "MENSALÃO"/ REFORMA

Ministro, um dos mais próximos do presidente, coloca o cargo à disposição de Lula

Sob suspeita, Gushiken perde força e deve deixar o governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) colocou anteontem o cargo à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conversa na Granja do Torto.
Segundo assessores de sua pasta, Gushiken fez ontem uma reunião com auxiliares para dizer que sairia do governo. Em outras conversas, o ministro disse que a decisão está nas mãos de Lula. Se depender da vontade de familiares, ele deixará o cargo.
Foi um desgastado Gushiken quem tomou a iniciativa de pedir a reunião com Lula. Disse estar debaixo de um bombardeio, devido a reportagens a respeito de uma empresa da qual foi sócio (Globalprev, que assistiu a um salto no faturamento desde que o ex-associado migrou para Brasília), do aumento da publicidade da revista de um cunhado e de sua influência em fundos de pensão.
Afirmou ainda que, na hora em que Lula faz uma reforma em resposta à crise política, não quer ser gerador de fatos negativos.

Confiança
O ministro disse a Lula que nunca influenciou eventuais contratos de sua ex-empresa com entidades públicas ou privadas e que não teve responsabilidade no aumento de publicidade na revista de um cunhado. Já sua influência em fundos de pensão é um fato.
O presidente reiterou a confiança no ministro. Ambos avaliaram que o banqueiro Daniel Dantas, cujos interesses em fundos de pensão foram combatidos por Gushiken, estaria alimentando um lobby no Senado para enfraquecê-lo e rearticular seus interesses com o governo.
Na conversa, foram apontados como aliados de Dantas os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), César Borges (PFL-BA) e Heráclito Fortes (PFL-PI).
Desde a campanha de 2002, Gushiken barra o contato de Dantas com a cúpula do governo. Ele também minou o poder do banqueiro em fundos de pensão. Dantas fez pontes com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, dinamitadas por Gushiken.
Gushiken chegou a ser espionado por uma empresa (a Kroll), por orientação do Banco Opportunity, de Dantas.
Se se confirmar a saída, Lula perderá outro influente ministro após o afastamento de Dirceu da Casa Civil. Ao lado de Dirceu e do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, Gushiken é um poderoso auxiliar de Lula desde a campanha de 2002.
Nas discussões do governo, quase sempre se alinhou a Palocci -os dois foram trotsquistas e radicais do PT nos primórdios do partido. Teve choques de bastidor com Dirceu.
No início do governo Lula, os três (Gushiken, Dirceu e Palocci) integravam o chamado "núcleo duro" do governo, ouvido por Lula para a tomada de decisões.
Amigo do presidente, Gushiken é um dos poucos auxiliares que têm conversas francas com Lula, nas quais deixa claro eventuais discordâncias.


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