São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ REFORMA

Publicitário trabalhou para o governo federal até junho de 2004; ao sair, assumiu cargo na agência de Marcos Valério de Souza

Ex-diretor da Secom vira diretor da SMPB

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um ex-assessor do ministro Luiz Gushiken foi contratado em 2004 para ser diretor nacional de mídia da SMPB, agência de publicidade que tem como um de seus sócios Marcos Valério de Souza, acusado de ser um dos operadores do suposto "mensalão".
O publicitário Alarico Naves Assumpção, 32, de Uberlândia (MG), foi contratado como assessor da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República) em 15 de agosto de 2003, segundo o "Diário Oficial" da União. Foi alocado na diretoria de mídia. Sua exoneração, assinada por Gushiken "a pedido", foi publicada em 30 de junho de 2004. A partir daí, ingressou na SMPB.
A diretoria de mídia da Secom é um dos organismos mais poderosos dessa pasta. É ali que são supervisionadas todas as campanhas publicitárias do governo federal, tanto da administração direta como da indireta. Essa diretoria também coordena o comitê de negociação de preços de veiculação de anúncios com os grandes órgãos de comunicação.
A administração de Luiz Inácio Lula da Silva gastou R$ 867,1 milhões no ano passado com propaganda. Se forem somados os custos de produção, patrocínio e publicidade legal (balanços, editais etc.), o valor sobe para algo em torno de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,3 bilhão -o número exato não é divulgado, apesar de a Folha ter solicitado a informação à Secom desde o início do governo.
Alarico Naves Assumpção foi por quase um ano um dos quatro assessores da diretoria de mídia da Secom e tratou da coordenação de campanhas estatais federais. Na SMPB, foi fazer a mesma coisa que fazia na Secom.

Passagem pela DNA
O grupo de mídia de uma empresa estatal é sempre formado por profissionais contratados pelas agências licitadas -em geral, três. Enquanto esteve no Banco do Brasil, de 1998 a 2003, Alarico Naves Assumpção teve seu salário pago por duas agências. Primeiro, a Master, empresa conhecida de Curitiba (PR). Depois, pela DNA -outra agência que tem em seu quadro societário o empresário Marcos Valério de Souza.
Algumas dessas informações passaram a circular por Brasília nesta semana, dentro do âmbito da CPI dos Correios. Parte dos dados, entretanto, foram fornecidos pelo próprio Alarico à Folha. O publicitário se diz "perfeitamente tranqüilo", pois afirma nem ter conhecido Marcos Valério.
A rigor, não há irregularidade no fato de um profissional do mercado publicitário entrar para o governo, e, em seguida, voltar ao mercado. O que chama a atenção nesse caso é a coincidência de Alarico ter trabalhado recebendo salário de uma agência de Marcos Valério (a DNA), depois ter passado pela Secom, e, agora, estar novamente em uma empresa (a SMPB) do empresário que é o pivô do escândalo do "mensalão".
No dia 16 de junho, a Folha já havia revelado outro fato correlato. Telma dos Reis Menezes Silva, mulher do diretor de eventos da Secom, atua em Brasília defendendo interesses de Marcos Valério em contratos com órgãos públicos e empresas privadas.
Ela é publicitária e casada com Marco Antônio da Silva. É "contato" da Multi Action Entretenimentos -a empresa pertence a Marcos Valério. O diretor da Secom disse não haver conflito de interesse entre sua função no governo e o trabalho de sua mulher.


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