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Bastos vê risco de atropelo em apuração
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, afirmou ontem
no Congresso Nacional que a
atual crise no país "pode ser diferente" e "ter uma qualidade" se
não se restringir ao "julgamento
político" dos acusados. Segundo
ele, muitas vezes há a "tentação de
atropelar" as investigações.
"Acredito que, com a investigação ampla e profunda que a Polícia Federal está fazendo e com o
trabalho que esperamos que venha a ser realizado pelo Poder Judiciário, possamos tirar dessa crise a punição dos culpados e a absolvição dos inocentes, sempre
dentro do Estado de Direito, porque, nesse momento, existe muitas vezes a tentação de atropelar."
Thomaz Bastos participou ontem da cerimônia de promulgação do referendo do desarmamento, que determina a realização de uma consulta popular sobre a comercialização de armas de
fogo no país. A promulgação do
decreto foi realizada no gabinete
do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), com a
presença do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).
Durante o evento, Severino pediu ao ministro punição "não só
para aqueles que usam armas mas
aos que dilapidaram o patrimônio do país". O deputado disse
ainda que "quando se quer fazer a
coisa, se faz" e que é preciso "consertar o país e punir os culpados".
O ministro respondeu às declarações de Severino em entrevista,
no final do evento, afirmando que
"essa crise que o país está vivenciando pode ser uma crise diferente e ter uma qualidade, que é a
punição ou a absolvição de todos
os acusados".
"O que tem acontecido em outros ensejos da história é que se
fez simplesmente o julgamento
político. Alguns deputados são
cassados, a corrupção é cassada,
mas não tem havido o julgamento
judicial das questões", disse,
anunciando "uma mudança de
patamar no lidar das questões de
corrupção".
Thomaz Bastos ainda pediu
"paciência" ao comentar a evolução dos trabalhos da Polícia Federal na apuração das denúncias de
corrupção. "O tempo da PF -até
porque é mais cuidadosa- é diferente do tempo da imprensa. A
PF tem de produzir provas e isso
às vezes demora um pouco mais e
impacienta as pessoas", disse.
Previsto no Estatuto do Desarmamento, o referendo será feito
para saber se a população concorda com a proibição à venda de armas. O projeto foi aprovado anteontem na Câmara.
Após ser promulgado, o decreto
segue ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), que preparará a votação. A pergunta em 23 de outubro
será: "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido
no Brasil?".
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