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TRANSIÇÃO
Presidenciável está disposto a se manifestar a favor do pacote
Lula aprova acordo com FMI, mas culpa governo pela crise
FÁBIO ZANINI
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, considerou positiva a renovação do
acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e está disposto a manifestar-se positivamente
sobre ele.
Em conversas com integrantes
de seu comando de campanha
ontem à tarde, Lula deixou claro
que está fora de questão sua oposição frontal ao pacote.
O que o petista fará, para evitar
passar um cheque em branco ao
governo, é criticar indiretamente
a situação que levou o Brasil a recorrer ao novo acordo.
O presidenciável pretende cobrar medidas complementares
emergenciais ao pacote que incentivem as exportações e mudanças no modelo econômico para incentivar a produção.
Lula deve fazer ataques à dependência do Brasil ao financiamento
externo, dizendo que é fruto da
falta de ação do governo. Apesar
do elogio ao pacote, o candidato
vai insistir que o FMI não pode ser
eternamente um "salva-vidas"
para o Brasil.
Lula ficou satisfeito principalmente porque acha que o novo
acordo garante uma transição
tranquila e dá fôlego ao novo governo, pelo menos em seu início.
O candidato petista também se
dispõe a conversar pessoalmente
com o presidente Fernando Henrique Cardoso se for chamado pelo governo.
Segundo a Folha apurou, o PT
aprovou o formato do novo pacote, que prevê a liberação de US$ 30
bilhões, 80% dos quais no próximo mandato. Por não terem sido
exigidos maior aperto na economia -com a manutenção da meta de superávit primário em
3,75% do PIB- e elevação na taxa de juros, foram removidos os
obstáculos potenciais para que o
PT aprovasse o pacote.
O acordo de 15 meses permite
ainda a redução do piso mínimo
das reservas internacionais do
Brasil dos atuais US$ 15 bilhões
para US$ 5 bilhões, dando maior
poder de fogo ao país para segurar o valor do câmbio.
Lula quer deixar claro ao eleitorado que acreditava na necessidade emergencial do novo pacote,
porque falar o contrário passaria
a imagem de falta de responsabilidade em um momento de crise
aguda do Brasil.
Mas ele não pretende dividir
com o governo o ônus neste momento, até porque teme que um
apoio entusiasmado ao FMI soe
como algo falso e eleitoreiro.
Por isso, o endosso de Lula virá
acompanhado das ressalvas.
Além da crítica ao modelo econômico, o petista pedirá a aprovação
de um minipacote fiscal que desonere as exportações e acabe com o
efeito cascata de alguns impostos,
como PIS, Cofins e Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido.
Trauma de 98
Lula, que já esperava para hoje o
anúncio do novo pacote, passou o
dia gravando cenas de seu programa eleitoral, em seu comitê, na
Vila Mariana. No início da tarde,
conversou com o presidente do
PT, José Dirceu, que acabara de
ser informado por FHC, por uma
ligação recebida de Brasília.
Lula terminou as gravações e
em seguida passou a conversar
com seu círculo próximo de assessores sobre o acordo. Ele expressou alívio pelo fato de ter sido
afastado, pelo menos preliminarmente, o risco de um cenário eleitoral em meio a turbulência exacerbada. O PT acha que poderia
colar o discurso da "mudança
com segurança", que beneficiaria
o governo.
O receio era de um cenário semelhante ao de 1998, em que, na
avaliação do PT, a crise na Rússia
acabou beneficiando a reeleição
de FHC.
Mas o partido reconhece também que, se disputar o primeiro
turno sob pressão dos mercados
era tido como um ingrediente que
favorecia a candidatura Ciro Gomes (PPS), o acordo renovado
pode dar fôlego ao presidenciável
José Serra (PSDB).
Daí a necessidade de passar a
imagem de comedimento, que
não tumultue o mercado nem beneficie a candidatura governista.
Lula repetirá ainda seu discurso
de que a responsabilidade de conter a crise econômica é do governo. Esse discurso evitará satanizar
o FMI, mas reforçará que a instituição não pode exigir medidas
em que o novo governo fique de
mãos atadas.
O presidenciável não se manifestou publicamente sobre o assunto ontem.
Lula só tem agenda pública no
sábado, mas é provável que se
manifeste hoje sobre o acordo, de
acordo com sua assessoria de imprensa.
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