São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidenciável está disposto a se manifestar a favor do pacote

Lula aprova acordo com FMI, mas culpa governo pela crise

FÁBIO ZANINI
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, considerou positiva a renovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e está disposto a manifestar-se positivamente sobre ele.
Em conversas com integrantes de seu comando de campanha ontem à tarde, Lula deixou claro que está fora de questão sua oposição frontal ao pacote.
O que o petista fará, para evitar passar um cheque em branco ao governo, é criticar indiretamente a situação que levou o Brasil a recorrer ao novo acordo.
O presidenciável pretende cobrar medidas complementares emergenciais ao pacote que incentivem as exportações e mudanças no modelo econômico para incentivar a produção.
Lula deve fazer ataques à dependência do Brasil ao financiamento externo, dizendo que é fruto da falta de ação do governo. Apesar do elogio ao pacote, o candidato vai insistir que o FMI não pode ser eternamente um "salva-vidas" para o Brasil.
Lula ficou satisfeito principalmente porque acha que o novo acordo garante uma transição tranquila e dá fôlego ao novo governo, pelo menos em seu início.
O candidato petista também se dispõe a conversar pessoalmente com o presidente Fernando Henrique Cardoso se for chamado pelo governo.
Segundo a Folha apurou, o PT aprovou o formato do novo pacote, que prevê a liberação de US$ 30 bilhões, 80% dos quais no próximo mandato. Por não terem sido exigidos maior aperto na economia -com a manutenção da meta de superávit primário em 3,75% do PIB- e elevação na taxa de juros, foram removidos os obstáculos potenciais para que o PT aprovasse o pacote.
O acordo de 15 meses permite ainda a redução do piso mínimo das reservas internacionais do Brasil dos atuais US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões, dando maior poder de fogo ao país para segurar o valor do câmbio.
Lula quer deixar claro ao eleitorado que acreditava na necessidade emergencial do novo pacote, porque falar o contrário passaria a imagem de falta de responsabilidade em um momento de crise aguda do Brasil.
Mas ele não pretende dividir com o governo o ônus neste momento, até porque teme que um apoio entusiasmado ao FMI soe como algo falso e eleitoreiro.
Por isso, o endosso de Lula virá acompanhado das ressalvas. Além da crítica ao modelo econômico, o petista pedirá a aprovação de um minipacote fiscal que desonere as exportações e acabe com o efeito cascata de alguns impostos, como PIS, Cofins e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.

Trauma de 98
Lula, que já esperava para hoje o anúncio do novo pacote, passou o dia gravando cenas de seu programa eleitoral, em seu comitê, na Vila Mariana. No início da tarde, conversou com o presidente do PT, José Dirceu, que acabara de ser informado por FHC, por uma ligação recebida de Brasília.
Lula terminou as gravações e em seguida passou a conversar com seu círculo próximo de assessores sobre o acordo. Ele expressou alívio pelo fato de ter sido afastado, pelo menos preliminarmente, o risco de um cenário eleitoral em meio a turbulência exacerbada. O PT acha que poderia colar o discurso da "mudança com segurança", que beneficiaria o governo.
O receio era de um cenário semelhante ao de 1998, em que, na avaliação do PT, a crise na Rússia acabou beneficiando a reeleição de FHC.
Mas o partido reconhece também que, se disputar o primeiro turno sob pressão dos mercados era tido como um ingrediente que favorecia a candidatura Ciro Gomes (PPS), o acordo renovado pode dar fôlego ao presidenciável José Serra (PSDB).
Daí a necessidade de passar a imagem de comedimento, que não tumultue o mercado nem beneficie a candidatura governista.
Lula repetirá ainda seu discurso de que a responsabilidade de conter a crise econômica é do governo. Esse discurso evitará satanizar o FMI, mas reforçará que a instituição não pode exigir medidas em que o novo governo fique de mãos atadas.
O presidenciável não se manifestou publicamente sobre o assunto ontem.
Lula só tem agenda pública no sábado, mas é provável que se manifeste hoje sobre o acordo, de acordo com sua assessoria de imprensa.



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