São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT

Pont, da esquerda, defende posição oposta; para candidato favorito a presidente do PT, apurações estão "muito tumultuadas"

Berzoini admite dar legenda em 2006 a petista que renunciar

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os candidatos à presidência do PT Ricardo Berzoini (Campo Majoritário), e Raul Pont (Democracia Socialista) defenderam ontem procedimentos opostos em relação aos parlamentares petistas ameaçados de cassação, em debate que antecedeu disputa no segundo turno das eleições do partido, a ser realizada em São Paulo.
Berzoini admitiu a renúncia como forma de escapar da perda de direitos políticos caso os processos de apuração do Congresso sejam "equivocados", ou seja, transformados pela oposição em disputa partidária. Já Pont quer negar legenda nas eleições de 2006 para quem recorrer ao artifício.
A discordância aprofunda ainda mais as diferenças entre os candidatos, já explicitadas em posições sobre a política econômica do governo. A militância escolherá amanhã qual deles dirigirá o partido nos próximos três anos.
A opção da renúncia para os deputados petistas ameaçados de cassação por suposto envolvimento no esquema do "mensalão" surgiu nesta semana em Brasília, como forma de aplacar de vez a crise política do governo.
O presidente interino do PT, Tarso Genro, reafirmou ontem ser contra dar legenda a quem renunciar. Tarso negou haver qualquer acordo para que deputados garantam direitos políticos renunciando ao mandato antes da abertura do processo de cassação -se aberto o processo, o parlamentar fica sujeito a punições.
"Nossos parlamentares devem participar de todo processo de averiguação, pois deixarão transparente para sociedade o nível de responsabilidade que têm e, em casos concretos, eventuais perseguições e distorções que estejam fazendo contra eles", disse. Ele afirmou que vai defender essa tese no Diretório Nacional, instância máxima do partido.
Berzoini, o candidato da situação petista, afirmou que os processos de investigação na Câmara dos Deputados estão "muito tumultuados". "Os deputados acusados demonstraram disposição de não renunciar, mas estão preocupados com a falta de critérios para as punições e a falta de métodos de investigação que produzam um cenário de Justiça, e não um cenário de entrega à cassação sem fundamentação", disse o candidato do Campo Majoritário.
"Se houver renúncia após configurada culpa, é para fugir de responsabilidades. Se houver renúncia para escapar de processo de apuração equivocado, é um expediente de proteção dos direitos individuais. Não deve ser punido pelo próprio partido", afirmou Berzoini, ressaltando a necessidade de integrantes de outras legendas que supostamente utilizaram caixa dois, como o senador Eduardo Azeredo (MG), presidente do PSDB, e o deputado Roberto Brant (PFL-MG), serem tratados com o mesmo rigor aplicado aos petistas.
Pont, candidato da esquerda do PT, prega a investigação interna e punições como forma de dar uma resposta à militância e à opinião pública. "Não podemos deixar a dúvida de que somos coniventes ou omissos nos casos de flagrantes irregularidades", disse.

Ética
No debate de ontem, Berzoini tentou se diferenciar de Pont na defesa ao governo Lula. Chegou a acusar o oponente de criar disputas internas desnecessárias. Também afirmou que apoiadores de Pont agiram de forma "antiética" no primeiro turno. "Não se pautaram pela ética nem pelo respeito à história desses companheiros que ajudaram a construir o PT", disse Berzoini, referindo-se aos petistas sob investigação no Congresso.
"Foram comprovadamente quebradas as relações mínimas de confiança, tratamento igualitário, companheirismo e lealdade", afirmou Pont. "Essas pessoas, algumas réus confessos, deveriam já ter sido avaliadas pelo partido."


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