São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2008

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Sigilo de fonte é problema de jornalistas, diz delegado

Policial afirma que sua missão é descobrir quem avisou a TV sobre a Satiagraha

Amaro descia pela escada de incêndio do prédio da Justiça Federal em São Paulo quando foi encontrado pela reportagem da Folha ontem

Raimundo Pacco - 8.jul.08/Folha Imagem
Agentes da PF carregam itens apreendidos nas casas dos acusados pela Operação Satiagraha

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado da Polícia Federal Amaro Vieira Ferreira, responsável por investigar o vazamento da Satiagraha, afirmou ontem que o sigilo da fonte é uma questão restrita a jornalistas e que seu dever é descobrir a fonte policial que avisou a TV Globo que a operação ocorreria na madrugada de 8 de julho.
"Se a investigação levar a A, B ou C, não me interessa. O sigilo da fonte não é meu, é do jornalista. Posso chamar o jornalista e perguntar quem o avisou. Ele pode se manter em silêncio. E eu, como policial, posso buscar outros caminhos para descobrir quem vazou", afirmou.
A Folha informou ontem que a PF conseguiu, sem ordem judicial, a quebra do sigilo telefônico de dezenas de aparelhos Nextel usados na madrugada em que a operação foi deflagrada. Os pedidos foram focados em quatro locais onde havia equipes da TV Globo à espera da polícia na madrugada da operação.
"Não houve pedido de quebra de sigilo à Nextel, muito menos de quebra de sigilo de jornalistas. Pedimos apenas que a empresa nos informasse quais antenas servem determinados lugares, e para isso não é necessária uma autorização judicial", afirmou Amaro.
Nos autos, segundo a Folha apurou, a PF pediu a relação completa de "todos" os celulares e antenas usadas nas imediações da sede paulista da PF e em três locais alvos de buscas durante a deflagração da Satiagraha. Há ainda o horário em que as antenas foram usadas.
Questionado sobre o objetivo de identificar as antenas que captaram ligações feitas e recebidas apenas onde havia jornalistas à espera, o delegado afirmou que o caso está sob sigilo. "Mas posso assegurar que nenhum jornalista mora nesses locais", disse, em tom irônico.
Durante a madrugada do dia 8 de julho, foram presos o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, entre outras 14 pessoas, todos investigados por supostos crimes financeiros. A prisão de Pitta, às 6h e de pijamas, foi filmada pela TV.
"Sou um policial sério e não concordo em mostrar na TV alguém sendo preso. Quem vazou cometeu um crime, e é isso que investigo", disse Amaro. Segundo a Folha apurou, a PF queria descobrir se o delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, ou algum dos seus subordinados avisou os repórteres.
A reportagem encontrou ontem com Amaro por acaso no prédio da Justiça Federal. Ele deixava o sétimo andar pela escada de incêndio, ao lado do superintendente da PF de São Paulo, Leandro Daiello Coimbra. No sétimo andar funciona a 7ª Vara Federal, do juiz Ali Mazloum, que autorizou os pedidos de Amaro para busca e apreensão contra agentes que atuaram na Satiagraha. Amaro, que falou com a Folha no subsolo do prédio, após descer nove lances de escada, não confirmou se esteve com Mazloum.


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