|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO SANTO ANDRÉ
Telefonema à PM contradiz Gomes da Silva, que não explica disparos e diz que ficou com arma na mão
Gravação compromete versão de empresário
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma gravação feita pelo 190 da
Polícia Militar, minutos depois do
sequestro de Celso Daniel (PT),
compromete a versão apresentada pelo empresário Sérgio Gomes
da Silva, denunciado pelo Ministério Público de São Paulo como
um dos mandantes do assassinato
do prefeito. A transcrição da gravação está no processo que apura
o crime e nunca foi revelada.
Na noite de 18 de janeiro do ano
passado, um morador da rua Antonio Bezerra, zona sul de São
Paulo, escutou uma sucessão de
tiros enquanto tomava banho.
Assustado, olhou pela janela de
sua casa e viu uma Pajero abandonada e um homem fora do carro
com um revólver na mão. Às
23h20, ligou para o 190 da PM e,
enquanto relatava a cena, ouviu
dois novos disparos.
Tudo foi gravado pelo telefone
da polícia. Com o primeiro tiro,
cujo som é mais claro na gravação, o morador se assusta e pergunta ao telefonista se ele também ouviu o disparo. Em seguida,
um novo estampido, aparentemente mais distante.
O homem com a arma na mão
era o empresário Gomes da Silva.
Minutos antes, no começo da rua
Antonio Bezerra, o prefeito de
Santo André havia sido levado
por uma quadrilha da favela Pantanal -Daniel foi encontrado
morto a tiros dois dias depois.
O que não se entende é por que
dois novos tiros foram dados, se
os três carros envolvidos no sequestro já teriam fugido com Daniel. Segundo o depoimento do
morador, cujo nome é mantido
em sigilo, entre ver a cena e ligar
para a polícia, passaram-se de
dois a três minutos.
Ao ser questionado sobre os
disparos tardios, Gomes da Silva
descreveu o momento em que
Daniel foi levado pelos bandidos.
"Eles saíram correndo com o
Celso [Daniel] para o carro deles,
que estava a uns metros acima. Eu
parei, coloquei a mão no banco de
trás para pegar meu revólver dentro da minha bolsa. Desci com a
arma na mão e fiquei na rua. Disquei para o 190, perguntei [a uns
moradores] em que rua estava e
chamei a polícia." O diálogo do
empresário com a Polícia Militar
também foi gravado e está nos autos do processo.
Novamente questionado sobre
os estampidos posteriores, foi lacônico: "Foi isso que aconteceu.
Foi isso que aconteceu", disse referindo-se à história contada.
Para o Ministério Público, os
disparos teriam sido efetuados
pelo empresário com o objetivo
de simular um violento sequestro.
A essa versão os promotores
acrescentam que, quando os oito
tiros atingiram a Pajero, o carro
estava parado -a trajetória das
balas é perpendicular, impossível
em uma situação de movimento.
Segundo o laudo, a Pajero tinha
um tiro no vidro do motorista,
outros dois no lado do passageiro,
quatro no vidro traseiro direito e
um no pneu traseiro direito.
A pistola 380 que estava com
Gomes da Silva foi apreendida.
Perícia revelou vestígios de disparos recentes. No local, foi encontrado um cartucho de uma 9 mm.
Não é possível saber, de maneira
conclusiva, que tipo de arma atingiu a blindagem do carro.
A conclusão de que o carro estava parado quando foi alvejado entra em conflito com o primeiro
depoimento de Gomes da Silva,
no dia do sequestro. Ele havia dito
que, com um pneu furado, a Pajero havia parado, as portas destravaram, e Daniel foi arrancado -a
perícia concluiu que as travas não
apresentavam defeito.
Depois, à polícia, disse que parou o carro em razão de um problema mecânico. "Por que o carro
estava parado?", pergunta ele, que
responde: "Na fuga, de repente, o
carro... E foi isso que eu disse, o
motor girava em falso, a marcha
não engatava e, mesmo depois,
pensava que isso era impossível".
O empresário afirmou ter recebido uma explicação de um homem de São Paulo. "Esse homem,
que nem sei quem é, disse que, ao
esbarrar no câmbio 4X4, não sei
explicar, o motor gira em falso,
não engata a marcha."
Sobre uma suposta versão de
que o carro teria morrido, ele afirmou nunca ter dito isso. Ontem, a
Folha tentou ouvir o advogado do
empresário sobre a gravação da
PM, mas não conseguiu contato.
Texto Anterior: Discussão entre Arraes e Lessa marca encontro Próximo Texto: Roraima: Boa Vista é investigada por contrato irregular Índice
|