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RORAIMA
Cooperativa "de fachada" fornece 75% dos funcionários da prefeitura, que, em alguns casos, nem moram na cidade
Boa Vista é investigada por contrato irregular
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
Uma cooperativa, considerada
pela Justiça como "de fachada" e
condenada em segunda instância
pelo TRT (Tribunal Regional do
Trabalho) por "burlar concursos
públicos", é responsável por fornecer 75% dos funcionários que
trabalham na Prefeitura de Boa
Vista (RR), que é administrada
por Teresa Jucá (PPS).
Parte dos "cooperados" não
mora na capital roraimense, e os
valores do contrato firmado estão
sendo alvo de investigação.
O esquema da prefeitura se assemelharia ao "escândalo dos gafanhotos", que pode ter desviado
mais de R$ 230 milhões dos cofres
do Estado de Roraima, de acordo
com o Ministério Público Estadual, órgão que apura as irregularidades. Cerca de 5.500 pessoas teriam sido usadas no esquema.
Os funcionários da prefeitura
seriam ligados ao poder municipal, mas não trabalhariam efetivamente para fins públicos.
As investigações sobre o caso da
Prefeitura de Boa Vista não demonstram, porém, que, como no
caso do "escândalo dos gafanhotos", parte dos salários iria parar
no bolso de autoridades do Estado por meio de procuradores.
"De fachada"
Dos 4.000 funcionários da administração de Boa Vista, 3.000
seriam ligados à Cooserv (Cooperativa Roraimense de Serviços). A
prefeita Teresa Jucá é ex-mulher
do senador Romero Jucá
(PMDB), relator da reforma tributária no Senado.
A Justiça concluiu que a Cooserv é uma empresa "de fachada",
que se utiliza do rótulo de cooperativa para obter supostas regalias
fiscais, uma vez que não há participação nos lucros ou assembléias
de tomada de decisão, como
consta de decisão do juiz do trabalho Alberto de Carvalho.
Em 2002, a Cooserv foi condenada pela prática de "burlar concursos públicos".
A prefeita e sua assessoria jurídica afirmam que desconhecem o
resultado legal. A cooperativa, por
sua vez, informou que está apelando da sentença.
Testemunhas que prestaram
depoimento ao Ministério Público Estadual afirmaram que foram
contratadas pela cooperativa apenas para fazer "campanha eleitoral para o grupo político" apoiado
pela prefeita, no ano passado, mas
que nunca teriam prestado serviços à prefeitura.
Em documento encaminhado
pela própria prefeitura à Promotoria, verifica-se que, mesmo com
contrato firmado (depois de licitação com um único concorrente)
de R$ 1,9 milhão, os valores repassados mensalmente à cooperativa
nos meses de julho, agosto e setembro de 2002 chegaram a R$ 2,7
milhões, os maiores repasses do
ano, em período eleitoral.
Fora da cidade
Parte dos "cooperados", "mais
ou menos uns seis", de acordo
com a secretária da Administração do município, Lucicleide Barreto Queiroz, não trabalha em
Boa Vista.
Eles ficariam em Brasília.
A Procuradoria Geral de Justiça
de Roraima ordenou o encaminhamento de uma série de documentos ao órgão e pediu uma auditoria ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) para definir se acata uma representação de denúncia criminal (por peculato) e uma
ação por improbidade administrativa contra a prefeita e contra o
então presidente da Cooserv, Ronaldo Paiva.
Os funcionários fornecidos pela
"cooperativa" à prefeitura ganhariam "por hora trabalhada e produtividade".
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