São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Puccinelli utilizou esquema igual ao de Zeca do PT, diz gráfico

Dono de empresa e governador negam participação em fraude

José Bandeira fez denúncias ao Ministério Público de MS e, à Folha, afirmou que nos governos do PT e do PMDB a prática era semelhante

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM CAMPO GRANDE


O gráfico José da Silva Bandeira, que relatou ao Ministério Público de Mato Grosso do Sul a existência de um esquema de desvio de recursos públicos durante o governo de Zeca do PT (1999-2006), disse que prática semelhante ocorreu na Prefeitura de Campo Grande quando era administrada por André Puccinelli (PMDB), atual governador do Estado.
Em depoimento ao Ministério Público, o gráfico disse que atuou durante quase quatro anos (de 2003 a 2007) como laranja do empresário Hugo Sérgio Siqueira Borges -dono da gráfica Sergraph, que, segundo Bandeira, vendia notas frias ao governo petista.
Bandeira afirmou à Folha que a Sergraph também recebia por serviços não-prestados à prefeitura, administrada de 1996 a 2004 por Puccinelli.
Ele afirmou ainda que, na campanha de 2006, a Sergraph forneceu notas frias para serviços prestados ao senador Delcídio Amaral (PT). Os serviços, totalizando R$ 19,3 mil, foram declarados na prestação de contas enviada ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
"Todas as notas que saíam da Sergraph eram frias, com um endereço de Uberaba, em Minas Gerais, que não existia. As notas eram impressas lá mesmo na gráfica, sem autorização da prefeitura. Eu imprimi muitas delas", disse Bandeira.
Segundo o gráfico, Hugo Sérgio Siqueira Borges comprou, para fazer negócios com a prefeitura, uma empresa de propaganda chamada Apoio Comunicação Total Ltda. e a colocou em nome de Bandeira e de outro funcionário, Felipe da Silva Chaves. De acordo com Bandeira, a Apoio existia somente para receber pela produção de peças publicitárias que já vinham prontas da prefeitura.
A assessoria de imprensa de Puccinelli confirmou que a Apoio foi contratada pela prefeitura no período mencionado pelo gráfico, mas negou que tenham havido desvios de recursos públicos. O dono da Sergraph classificou de "bobagens" as afirmações do gráfico.
Segundo o gráfico, a prefeitura repassava a Siqueira Borges dinheiro referente à criação publicitária e à contratação de empresas especializadas em confeccionar e montar outdoors. Estes, ainda segundo Bandeira, eram de fato pagos diretamente pelo empresário. A sobra do dinheiro, referente à criação -que não era feita pela Apoio-, era dividida.
"A Apoio não criava nada. A empresa era simplesmente uma mesa e um computador lá dentro da Sergraph", disse.
"Chegava só o dinheiro, que era para repassar para as empresas que produziam os outdoors. Do restante, uma parte ficava com o Hugo, outra ele tinha de devolver à prefeitura."
Bandeira diz ter se tornado laranja três meses após ser contratado pela Sergraph.
"O Hugo me procurou e disse: "Olha, eu estou comprando uma agência de publicidade, só que estou com problema e não posso usar meu nome". Ele queria saber se podia colocar o meu nome e o de um auxiliar que tinha lá, o Felipe. Ele disse que não ia dar complicação nenhuma para nós dois."
Cópia do contrato social da empresa mostra que, até setembro de 2006, Bandeira era o sócio-majoritário da Apoio. Depois disso, houve uma alteração contratual: Felipe Chaves cedeu suas cotas ao filho do dono da Sergraph, Hugo Sérgio Siqueira Borges Filho. O vínculo com Bandeira só seria rompido em agosto deste ano, pouco após sua demissão.
Até hoje, no entanto, em seu endereço em Campo Grande, Bandeira recebe cobranças da Receita Federal e de financiamentos bancários que diz nunca ter assumido. Ele move uma ação trabalhista contra a Sergraph e nega que suas denúncias sejam uma tentativa de atingir o ex-patrão. Segundo ele, trata-se da única maneira de se livrar de dívidas e de implicações com a Receita.


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