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Puccinelli utilizou esquema igual ao de Zeca do PT, diz gráfico
Dono de empresa e governador negam participação em fraude
José Bandeira fez denúncias ao Ministério Público de MS e, à Folha, afirmou que nos governos do PT e do PMDB
a prática era semelhante
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM CAMPO GRANDE
O gráfico José da Silva Bandeira, que relatou ao Ministério
Público de Mato Grosso do Sul
a existência de um esquema de
desvio de recursos públicos durante o governo de Zeca do PT
(1999-2006), disse que prática
semelhante ocorreu na Prefeitura de Campo Grande quando
era administrada por André
Puccinelli (PMDB), atual governador do Estado.
Em depoimento ao Ministério Público, o gráfico disse que
atuou durante quase quatro
anos (de 2003 a 2007) como laranja do empresário Hugo Sérgio Siqueira Borges -dono da
gráfica Sergraph, que, segundo
Bandeira, vendia notas frias ao
governo petista.
Bandeira afirmou à Folha
que a Sergraph também recebia por serviços não-prestados
à prefeitura, administrada de
1996 a 2004 por Puccinelli.
Ele afirmou ainda que, na
campanha de 2006, a Sergraph
forneceu notas frias para serviços prestados ao senador Delcídio Amaral (PT). Os serviços,
totalizando R$ 19,3 mil, foram
declarados na prestação de
contas enviada ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
"Todas as notas que saíam da
Sergraph eram frias, com um
endereço de Uberaba, em Minas Gerais, que não existia. As
notas eram impressas lá mesmo na gráfica, sem autorização
da prefeitura. Eu imprimi muitas delas", disse Bandeira.
Segundo o gráfico, Hugo Sérgio Siqueira Borges comprou,
para fazer negócios com a prefeitura, uma empresa de propaganda chamada Apoio Comunicação Total Ltda. e a colocou
em nome de Bandeira e de outro funcionário, Felipe da Silva
Chaves. De acordo com Bandeira, a Apoio existia somente
para receber pela produção de
peças publicitárias que já vinham prontas da prefeitura.
A assessoria de imprensa de
Puccinelli confirmou que a
Apoio foi contratada pela prefeitura no período mencionado
pelo gráfico, mas negou que tenham havido desvios de recursos públicos. O dono da Sergraph classificou de "bobagens" as afirmações do gráfico.
Segundo o gráfico, a prefeitura repassava a Siqueira Borges
dinheiro referente à criação
publicitária e à contratação de
empresas especializadas em
confeccionar e montar outdoors. Estes, ainda segundo
Bandeira, eram de fato pagos
diretamente pelo empresário.
A sobra do dinheiro, referente
à criação -que não era feita pela Apoio-, era dividida.
"A Apoio não criava nada. A
empresa era simplesmente
uma mesa e um computador lá
dentro da Sergraph", disse.
"Chegava só o dinheiro, que
era para repassar para as empresas que produziam os outdoors. Do restante, uma parte
ficava com o Hugo, outra ele tinha de devolver à prefeitura."
Bandeira diz ter se tornado
laranja três meses após ser
contratado pela Sergraph.
"O Hugo me procurou e disse: "Olha, eu estou comprando
uma agência de publicidade, só
que estou com problema e não
posso usar meu nome". Ele
queria saber se podia colocar o
meu nome e o de um auxiliar
que tinha lá, o Felipe. Ele disse
que não ia dar complicação nenhuma para nós dois."
Cópia do contrato social da
empresa mostra que, até setembro de 2006, Bandeira era
o sócio-majoritário da Apoio.
Depois disso, houve uma alteração contratual: Felipe Chaves cedeu suas cotas ao filho do
dono da Sergraph, Hugo Sérgio
Siqueira Borges Filho. O vínculo com Bandeira só seria rompido em agosto deste ano, pouco após sua demissão.
Até hoje, no entanto, em seu
endereço em Campo Grande,
Bandeira recebe cobranças da
Receita Federal e de financiamentos bancários que diz nunca ter assumido. Ele move uma
ação trabalhista contra a Sergraph e nega que suas denúncias sejam uma tentativa de
atingir o ex-patrão. Segundo
ele, trata-se da única maneira
de se livrar de dívidas e de implicações com a Receita.
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