São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Antiga moradora do morro do Alemão não deseja ser removida de sua residência

DA SUCURSAL DO RIO

O morro do Alemão, uma das 12 favelas que compõem o complexo do Alemão, fala a língua do rap. Dulcinéia Coelho é uma exceção neste jovem mundo hip hop. Aos 77 anos, é a porta-bandeira da Velha Guarda da Imperatriz Leopoldinense e uma das moradores mais antigas da favela.
Dona Dulce recebe uma pensão de um salário mínimo e mora só numa casinha de quatro cômodos equilibrada em uma das ladeiras. Ela está preocupada com o que vai acontecer: o governo começou a marcar de vermelho casas e becos para as obras do PAC e ela teme ser removida. Há uma marca bem em frente à sua casa.
Não importa que o Alemão tenha alguns dos piores indicadores socioeconômicos da cidade, ela quer ficar no morro. Cercado por bairros tradicionais do subúrbio carioca, o entorno das favelas está deteriorado. Antiga área industrial, poucas fábricas sobreviveram à perda de competitividade e ao crescimento da violência.
O complexo está em último lugar entre 126 bairros no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (0,711), numa escala de 0 a 1 em que o melhor bairro é a Gávea (zona sul), com 0,970. Segundo o governo estadual, as favelas têm três postos de saúde e três escolas infantis. A situação é praticamente a mesma nos complexos da Penha (seis favelas) e do Caricó (sete favelas), que, junto com o Alemão, dividem o mesmo espaço geográfico. Apesar disso, ficaram de fora do PAC. O governo estadual promete incluí-las nos próximos pacotes, embora admita que não tenha recursos.
Além do teleférico, as favelas do Alemão terão completados os sistemas de abastecimento de água, esgoto, coleta de lixo, iluminação e drenagem pluvial, alargadas as principais ruas de acesso e construídos 21 centros de serviços e de cultura, 6 creches e escolas infantis, 5 escolas de ensino médio e uma profissionalizante, 4 centros de saúde, 2.620 novas casas para as famílias removidas, praças e, no alto da serra, o parque da Misericórdia, com 329,81 hectares e um lago.
O parque pode não sair do papel tão cedo. Para ser implantado depende da desativação de três pedreiras que abriram uma imensa cratera no miolo da serra. A maior delas acaba de obter licença para explosões e exploração de brita até 2012. (MB)


Texto Anterior: Moradores pedem mais diálogo sobre o projeto nos complexos
Próximo Texto: Outro lado: Borges afirma ter provas da compra da agência Apoio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.