|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PF vê suspeita de propina a irmão de Palocci em obra
Adhemar Palocci é citado em relatório da Castelo de Areia sobre obra no Pará
Documentos que integram inquérito da PF sugerem que construtora Camargo Corrêa deu R$ 1 mi a PT e PMDB pela obra de eclusas de Tucuruí
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O relatório final da Operação
Castelo de Areia da Polícia Federal levanta a suspeita de envolvimento de Adhemar Palocci, irmão do deputado federal
Antonio Palocci (PT-SP), no
pagamento de propina da construtora Camargo Corrêa ao PT
e ao PMDB. Segundo a investigação, há indícios de que cada
partido tenha recebido R$ 500
mil da empreiteira.
Adhemar é diretor de planejamento e engenharia da Eletronorte, estatal responsável
pela execução da construção
das eclusas de Tucuruí, no rio
Tocantins, no Pará. De acordo
com as apurações da PF, a Eletronorte e a Camargo Corrêa
assinaram um aditivo contratual para a obra, no valor de
cerca de R$ 76 milhões. Desse
total foi abatido um montante
relativo a impostos, e chegou-se a R$ 71 milhões, valor que teria servido de base para estipulação do total da propina.
Para a PF, um manuscrito
apreendido nas investigações
traz indícios de que o valor de
propina pago pelo aditivo da
obra tenha sido de R$ 2,1 milhões. Um trecho do documento traz a inscrição "acordo de
3% dos pagamentos de eclusa".
Ainda segundo o relatório, o
manuscrito traz a descrição de
um valor de R$ 1 milhão que
"está ligado às siglas PT e
PMDB, à proporção de 50% para cada" um.
O documento também contém as expressões "ADM/Pau"
e "Paulocci" -que, segundo a
PF, são menções a Adhemar
Palocci. Outro nome citado é
"Astrogildo", que, conforma as
conclusões do relatório, refere-se a Astrogildo Quental, diretor
financeiro da Eletrobrás.
Quental é ligado à família
Sarney e foi secretário estadual
de Infraestrutura do Maranhão
no governo de Roseana Sarney.
Ele também foi um dos investigados em outra operação da PF,
chamada inicialmente de Boi
Barrica (rebatizada de Faktor),
e que indiciou Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
O diretor da Eletrobrás era
um dos principais interlocutores de Fernando Sarney ao telefone em conversas gravadas pela polícia com autorização da
Justiça. A PF chegou a afirmar
que Quental defendia os interesses dos negócios do grupo de
Fernando na Eletrobrás.
O relatório da PF deixa claro
a necessidade de aprofundar as
apurações sobre os suspeitos. O
documento, com mais de 300
páginas, foi entregue ao Ministério Público Federal de São
Paulo em 22 de novembro.
Ontem, com fundamento no
relatório, o órgão encaminhou
os documentos da apuração à
Procuradoria-Geral da República para que o órgão tome
medidas para o prosseguimento das investigações.
No caso de Tucuruí, o Ministério Público deve pedir novas
apurações sobre o envolvimento de um membro do TCU (Tribunal de Contas da União) e
um diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes).
A Procuradoria também vai
pedir novas investigações a respeito de outras 13 obras. Entre
elas estão a construção da linha
4 do metrô de São Paulo e do
Rodoanel Mário Covas.
A apuração deverá recair sobre os conselheiros do TCE
(Tribunal de Contas do Estado)
Eduardo Bittencourt e Antonio
Roque Citadini. Documentos
apreendidos na Castelo de
Areia apontam as inscrições
"Ed. Bitt" e "Roc. Citadini",
que, para a PF, são abreviações
dos nomes dos conselheiros.
Segundo o relatório da PF, a
inscrição "CLEIMS - Metrô
L4", encontrada em um dos documentos, refere-se à palavra
claim, que é utilizada no jargão
técnico de contratos nos casos
em que há alterações de cláusulas dos negócios. Para os investigadores, essa é uma das chaves para aprofundar as investigações sobre as irregularidades
nas obras paulistas.
Políticos
O deputado federal Edson
Aparecido (PSDB-SP) também
deve ser alvo de novo inquérito.
O nome dele surgiu durante
apurações sobre documentos
relativos à obra da ponte Pauliceia, no rio Paraná, na divisa
entre São Paulo e Mato Grosso
do Sul. Segundo nota divulgada
ontem pelo Ministério Público,
um membro do PMDB também é suspeito de participar de
irregularidades ligadas à obra.
Iniciada para apurar crimes
financeiros supostamente cometidos por executivos da Camargo Corrêa, o alcance obtido
pela Operação Castelo de Areia
surpreendeu os envolvidos nas
investigações. Nomes de integrantes da base aliada do governo federal e da oposição surgiram nas apurações.
O caso já resultou em duas
ações criminais contra diretores da empreiteira e doleiros,
que já foram acusados de movimentar ilegalmente cerca de
US$ 30 milhões e fraudar a licitação para construção do metrô
de Salvador. A abertura de um
terceiro processo está sob análise do juiz titular da 6ª Vara
Criminal Federal de São Paulo,
Fausto Martin De Sanctis.
Colaborou FERNANDO BARROS DE MELLO, da Reportagem Local
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Investigação atinge Rodoanel e metrô de SP Índice
|