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Petista cobrará "contrapartida" a rigor fiscal
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em pouco mais de um mês de
gestão, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e o grupo de ministros mais próximo a ele chegaram
à conclusão de que é preciso cobrar do FMI "contrapartida" ao
rigor monetário e fiscal adotado à
risca pelo governo.
Ou seja, a ortodoxia econômica
do ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, precisa de um tempero social. Essa discussão é feita
de forma reservada pelo governo,
que não deseja transmitir a idéia
de algum tipo de ruptura ou inflexão heteredoxa na atual política
econômica.
Numa das conversas da cúpula
do governo, falou-se da possibilidade de exigir do FMI que os gastos das estatais federais em investimentos não sejam considerados
no cálculo do superávit primário
(a economia do setor público para
pagamento de juros da dívida).
Se esses investimentos são tidos
como gastos, é necessário um esforço fiscal maior para atingir o
superávit primário, a principal
meta do acordo do FMI com o
Brasil. Se não são considerados
gastos, o esforço fiscal é menor.
Essa discussão surgiu quando o
chamado "núcleo duro do governo" debatia a reestruturação do
setor elétrico preparada pela ministra das Minas e Energia, Dilma
Roussef. Dilma lançará no mês
que vem um edital de licitação para a construção de seis linhas de
transmissão. Ela deseja que estatais federais participem da concorrência pública.
No entanto, esse núcleo -formado pelos ministros Palocci, José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Luiz Dulci (Secretaria Geral)
e pelo chefe de gabinete de Lula,
Gilberto Carvalho- deparou-se
com um "obstáculo fiscal".
Se uma estatal federal vencer a
licitação, o seu gasto na construção da linha de transmissão entrará na conta para o cálculo do superávit primário.
Na avaliação de Lula e do "núcleo duro", isso impede o Brasil
de crescer economicamente e assim diminuir a relação entre a dívida pública e o PIB, um dos indicadores que o mercado mais leva
em conta na hora de considerar
um país capaz ou não de saldar
seus compromissos externos.
A dívida de todo o setor público
do Brasil equivale a 55% do PIB.
Na crise cambial da eleição de
2002, chegou a 64%. Diminuir a
relação dívida-PIB abre espaço
para queda de juros, o que ajudaria o Brasil a crescer.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentou convencer
o FMI a excluir investimentos das
estatais federais do cálculo do superávit primário. Não conseguiu.
Lula, porém, insistirá na tal "contrapartida", expressão ouvida pela Folha no núcleo do governo.
Na estratégia para cobrar flexibilização do FMI, o governo tem
se antecipado e tomado medidas
duras por conta própria. Palocci
se comporta como um bom aluno
da ortodoxia liberal. Anunciou o
maior ajuste fiscal da história do
real, subiu os juros contra o discurso histórico do PT e tem sido
extremamente conservador na
política econômica.
Com isso, o governo espera ter
"crédito" para obter uma folga do
FMI. Neste mês, há uma rodada
de revisão do acordo fechado em
agosto passado com o Fundo.
Não está certo que a cobrança de
contrapartida será feita agora,
mas ela acontecerá em algum momento. É decisão de Lula.
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