São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Deputado que acompanhou apuração diz que Polícia Civil pediu propina a preso e que houve briga de delegados

Greenhalgh acusa polícia e defende Gomes da Silva

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), interrogado ontem pela Justiça estadual sobre o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), defendeu a inocência do empresário e ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do crime.
Durante interrogatório, Greenhalgh surpreendeu ao acusar a Polícia Civil de ter pedido propina a um dos presos e narrou a disputa "carniceira" entre delegados para assumir o caso. O deputado, a pedido do PT, acompanhou a primeira fase da investigação promovida pela polícia, que concluiu por crime comum e apontou cinco homens da favela Pantanal como os assassinos.
A morte de Daniel, em janeiro de 2002, foi investigada em dois momentos: primeiro pela Polícia Civil (fase acompanhada pelo deputado); depois, a pedido da família do prefeito, pelo Ministério Público, que concluiu pelo envolvimento do empresário.
A motivação, segundo a Promotoria, foi uma tentativa de Daniel em acabar com um esquema de cobrança de propina na prefeitura da cidade, do qual Gomes da Silva seria um dos beneficiários.
Parte do dinheiro, segundo testemunhas, financiou campanhas do PT, o que o partido nega. Greenhalgh, do PT, discorda da versão da Promotoria.
A cobrança de propina por parte da polícia, segundo Greenhalgh, ocorreu no primeiro semestre de 2002, quando um dos acusados da favela Pantanal foi preso em Londrina e depois de oferecer uma casa, um carro e um cheque de R$ 6.000 foi solto -o homem foi recapturado depois. A polícia de Londrina já abriu sindicância para apurar o caso.
Sobre o trabalho da polícia, o deputado afirmou ainda ter assistido a uma disputa entre delegados por "holofotes".
Durante o interrogatório, Greenhalgh afirmou ter compreendido as contradições apresentadas pelo empresário sobre a dinâmica do crime. Na noite de 18 de janeiro de 2002, Daniel estava em uma Pajero blindada conduzida pelo empresário e foi arrancado do carro pela quadrilha. Seu corpo foi encontrado dois dias após em uma estrada em Juquitiba (SP).
Num primeiro momento, Gomes da Silva disse que o carro parou porque foi atingido por outro veículo. Com o tiroteio, segundo ele, as portas destravaram. Ao tentar acelerar, o motor girou em falso. Depois, quando os laudos periciais atestaram o bom funcionamento da Pajero, o empresário recuou e disse não lembrar de nada, pois estava em pânico. "A verdade é que na hora do crime ele agiu como um segurança de banco que se esconde no momento de um assalto. Ele [Gomes da Silva] não sabia como justificar o fato de apesar de ser segurança e amigo não ter defendido Daniel. Ele amedrontou, amarelou e não assumiu isso. Foi arrogante no primeiro depoimento, mas foi por medo de assumir seu próprio medo", disse o deputado.


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