São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ NOVAS CONEXÕES

Advogado Roberto Bertholdo quer falar à Procuradoria Geral para revelar, segundo ele, "todos os casos de corrupção que envolvem o governo"

Pivô do novo "mensalão" pede para ser ouvido

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O advogado Roberto Bertholdo vai protocolar amanhã, em Brasília, um pedido na Procuradoria Geral da República para ser ouvido nas investigações que apuram casos de corrupção no governo federal. Ele diz que pretende dar um depoimento sobre "todos os casos de corrupção que envolvem o governo" e "outras situações" que ocorreriam de forma "sistemática" entre políticos.
Bertholdo, que está preso no Paraná acusado de grampear um juiz do Estado e de "torturar" um ex-sócio, foi apontado pela revista "Veja" que circula nesta semana como operador do "mensalão" dentro do PMDB.

Mesada
De acordo com a revista, o advogado, que era assessor do então líder do partido na Câmara, deputado José Borba (PMDB-PR), distribuía uma mesada que variava de R$ 15.000 a R$ 200 mil para 55 dos 81 deputados do partido. Teria até transportado, de acordo com a "Veja", mais de R$ 8 milhões em dinheiro em um jatinho.
Borba, que foi envolvido no esquema do "mensalão", renunciou ao mandato no ano passado para evitar a cassação.
Bertholdo teria ainda intermediado um acordo entre Ratinho e o PT para que o apresentador do SBT falasse bem do partido em 2004. Ratinho nega.
Bertholdo diz que "as histórias da "Veja" não são verdadeiras" e que "o "mensalão" nunca existiu no PMDB". O advogado diz que revelará fatos que envolvem outros partidos "da base aliada".

"Dinheiro vivo"
"Eu sei de outras coisas relacionadas a outros partidos. Sei como está sendo feita essa corrupção. Toda a corrupção é feita sempre com dinheiro vivo. E eu sei, por exemplo, quem opera e quem transforma recursos em dinheiro vivo para ser distribuído a deputados", afirmou.
De acordo com ele, as revelações vão mostrar que "outros braços", além de bancos já citados no escândalo, são fonte de dinheiro vivo para a corrupção. "Existe esse outro braço. E não é banco. É um grupo de doleiros. Alguns já foram depor na CPI. Muitos mentiram. Eles estão articulados. São todos capitaneados por um deputado federal do Paraná, que pega o dinheiro e distribui a vários deputados da base aliada."
De acordo com Bertholdo, o deputado dizia que fazia tudo "combinado com o presidente [da República], mas eu nem acredito que ele dizia a verdade".

Furnas
A Folha perguntou os nomes do deputado, dos doleiros e dos parlamentares para quem tais recursos seriam distribuídos, mas Bertholdo não quis revelar. A Folha perguntou também de onde viria o dinheiro vivo distribuído a deputados -se do governo federal e de estatais ou de empresas privadas com interesses nos negócios do Estado.
"Provavelmente [as informações que dará à Procuradoria Geral] vão chegar a Furnas, a diferentes fundos de pensão e a histórias que não se fecharam até agora." O advogado participou do governo Lula. Ele foi indicado, no início do governo do PT, para fazer parte do conselho da Itaipu Binacional, indicado pelo PMDB do Paraná.
Bertholdo diz que as histórias que contará aos procuradores "demandam apuração" para que sejam provadas.


Texto Anterior: Ex-funcionária confirma fraude em prefeitura
Próximo Texto: Oposição entra com requerimento para prorrogar a CPI dos Bingos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.