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CAMPO MINADO
Cerca de 2.000 militantes da Via Campesina invadiram Aracruz em protesto pelo monocultivo de eucaliptos
Mulheres depredam fábrica de celulose no RS
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Um grupo de 2.000 militantes
da Via Campesina, na maioria
mulheres, invadiu na manhã de
ontem e danificou instalações do
horto florestal da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (56 km de
Porto Alegre). A depredação durou meia hora.
O objetivo, segundo manifesto
divulgado pela entidade, era denunciar as ""conseqüências sociais
e ambientais do avanço da invasão do deserto verde criado pelo
monocultivo de eucaliptos".
A ação foi liderada pelo Movimento das Mulheres Camponesas
e procurou marcar, além da condenação ao que chama de ""latifúndio verde", o Dia Internacional da Mulher.
Em outros sete Estados -AL,
MA, MT, PA, PE, RO e SE- ocorreram caminhadas e atos públicos
de mulheres trabalhadoras rurais.
De acordo com a gerência da fábrica da Aracruz, em Guaíba, a
produção está comprometida.
Laboratórios foram destruídos e
pesquisas de até 20 anos, sobre
cruzamentos genéticos e seleção
de espécies, foram perdidas.
Prejuízos
O gerente da Aracruz em Guaíba, Renato Rostirola, reclamou
dos prejuízos: "Foi atacada uma
área onde havia mudas que já estavam prontas depois de um período de 120 dias. Isso compromete bastante nosso desenvolvimento em pesquisa. O laboratório, onde ficam nossas pesquisas,
ficou comprometido porque foram misturados elementos". Ele
não fez uma estimativa dos valores do prejuízo.
O viveiro florestal da Aracruz
tem capacidade para a produção
de 30 milhões de mudas de eucaliptos. Pelo menos 5 milhões de
plantas foram destruídas. O plantio que abastece a fábrica da Aracruz em Guaíba (ao lado de Barra
do Ribeiro) ficou comprometido
pela falta de mudas.
Os invasores chegaram ao local
com taquaras (pedaços de bambu) e facas de mesa. Com as taquaras, romperam plásticos e telas das estufas, onde havia clonagens. Além do uso da terra para
reforma agrária em vez do reflorestamento, os manifestantes utilizaram argumentos ambientalistas para justificar a ação.
"Desertos verdes"
"Somos contra os desertos verdes, as enormes plantações de eucalipto, acácia e pinus para celulose, que cobrem milhares de hectares no Brasil e na América Latina", afirmaram as mulheres, em
manifesto da Via Campesina, organização internacional da qual
faz parte o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
e outras entidades.
"Onde o deserto verde avança a
biodiversidade é destruída, os solos deterioram, os rios secam, sem
contar a enorme poluição gerada
pelas fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana", diz o texto.
"Não conseguimos entender
como um governo que quer acabar com a fome patrocina o deserto verde em vez de investir na Reforma Agrária e na Agricultura
Camponesa."
O manifesto do grupo lembra
ainda o Dia Internacional da Mulher: ""Neste 8 de março, nos solidarizamos com as mulheres camponesas e com as trabalhadoras
urbanas de todo o mundo, que
sofrem com as várias formas de
violência impostas por esta sociedade capitalista e patriarcal."
Rossetto condena
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, representante das correntes de esquerda do PT no governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, condenou a
invasão, dizendo que ela ""em nada contribui pela busca da reforma agrária".
Entidades empresariais do Rio
Grande do Sul divulgaram nota
para expressar repúdio à invasão.
Segundo as entidades, "esses atos
que afrontam a lei e agridem a democracia também destroem as
oportunidades sociais e os empregos gerados por esses empreendimentos".
Colaborou SÍLVIA FREIRE,
da Agência Folha
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