São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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CAMPO MINADO

Cerca de 2.000 militantes da Via Campesina invadiram Aracruz em protesto pelo monocultivo de eucaliptos

Mulheres depredam fábrica de celulose no RS

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Um grupo de 2.000 militantes da Via Campesina, na maioria mulheres, invadiu na manhã de ontem e danificou instalações do horto florestal da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (56 km de Porto Alegre). A depredação durou meia hora.
O objetivo, segundo manifesto divulgado pela entidade, era denunciar as ""conseqüências sociais e ambientais do avanço da invasão do deserto verde criado pelo monocultivo de eucaliptos".
A ação foi liderada pelo Movimento das Mulheres Camponesas e procurou marcar, além da condenação ao que chama de ""latifúndio verde", o Dia Internacional da Mulher.
Em outros sete Estados -AL, MA, MT, PA, PE, RO e SE- ocorreram caminhadas e atos públicos de mulheres trabalhadoras rurais.
De acordo com a gerência da fábrica da Aracruz, em Guaíba, a produção está comprometida. Laboratórios foram destruídos e pesquisas de até 20 anos, sobre cruzamentos genéticos e seleção de espécies, foram perdidas.

Prejuízos
O gerente da Aracruz em Guaíba, Renato Rostirola, reclamou dos prejuízos: "Foi atacada uma área onde havia mudas que já estavam prontas depois de um período de 120 dias. Isso compromete bastante nosso desenvolvimento em pesquisa. O laboratório, onde ficam nossas pesquisas, ficou comprometido porque foram misturados elementos". Ele não fez uma estimativa dos valores do prejuízo.
O viveiro florestal da Aracruz tem capacidade para a produção de 30 milhões de mudas de eucaliptos. Pelo menos 5 milhões de plantas foram destruídas. O plantio que abastece a fábrica da Aracruz em Guaíba (ao lado de Barra do Ribeiro) ficou comprometido pela falta de mudas.
Os invasores chegaram ao local com taquaras (pedaços de bambu) e facas de mesa. Com as taquaras, romperam plásticos e telas das estufas, onde havia clonagens. Além do uso da terra para reforma agrária em vez do reflorestamento, os manifestantes utilizaram argumentos ambientalistas para justificar a ação.

"Desertos verdes"
"Somos contra os desertos verdes, as enormes plantações de eucalipto, acácia e pinus para celulose, que cobrem milhares de hectares no Brasil e na América Latina", afirmaram as mulheres, em manifesto da Via Campesina, organização internacional da qual faz parte o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e outras entidades.
"Onde o deserto verde avança a biodiversidade é destruída, os solos deterioram, os rios secam, sem contar a enorme poluição gerada pelas fábricas de celulose que contaminam o ar, as águas e ameaçam a saúde humana", diz o texto.
"Não conseguimos entender como um governo que quer acabar com a fome patrocina o deserto verde em vez de investir na Reforma Agrária e na Agricultura Camponesa."
O manifesto do grupo lembra ainda o Dia Internacional da Mulher: ""Neste 8 de março, nos solidarizamos com as mulheres camponesas e com as trabalhadoras urbanas de todo o mundo, que sofrem com as várias formas de violência impostas por esta sociedade capitalista e patriarcal."

Rossetto condena
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, representante das correntes de esquerda do PT no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, condenou a invasão, dizendo que ela ""em nada contribui pela busca da reforma agrária".
Entidades empresariais do Rio Grande do Sul divulgaram nota para expressar repúdio à invasão. Segundo as entidades, "esses atos que afrontam a lei e agridem a democracia também destroem as oportunidades sociais e os empregos gerados por esses empreendimentos".


Colaborou SÍLVIA FREIRE, da Agência Folha


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