São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Subsídios dos EUA são "nefastos", diz Lula

Presidente deu a declaração em Brasília, um dia antes de se encontrar com o presidente George W. Bush em São Paulo

Petista disse esperar um acordo com o presidente norte-americano para que os países pobres tenham chance de se desenvolver


PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No dia da chegada de George W. Bush ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Brasília, que os subsídios dos EUA para a agricultura são "nefastos" para o livre comércio. Ele se encontra com o presidente norte-americano hoje, em São Paulo.
Lula afirmou que conversará com Bush sobre o tema e que espera chegar a um acordo para que "nas próximas três a quatro semanas possamos anunciar ao mundo que finalmente os países mais pobres terão uma chance de se desenvolver".
O presidente deixou claro que entende as pressões internas de Bush, ao cobrar uma igualdade na concorrência. "O que nós queremos é que os EUA possam diminuir os subsídios, tão importantes para os agricultores americanos, mas tão nefastos para o livre comércio que tanto apregoamos", disse o brasileiro, de improviso, ao final de encontro com o presidente alemão, Horst Köhler, no Palácio do Planalto.
A declaração revela mais um ponto de discórdia entre os governos do Brasil e dos EUA, que, nesta semana, mostraram ter visões políticas e comerciais distintas. Se for seguido o roteiro das chancelarias dos dois presidentes, será uma conversa de surdo-mudo, com Bush querendo discutir o venezuelano Hugo Chávez, o que o petista resiste a fazer, e Lula pedindo o fim da barreira ao álcool combustível, o que Bush já disse que não acontecerá.
O assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, reforçou o discurso improvisado do presidente ao afirmar ontem que, se os EUA querem ajudar a América Latina, deveriam cortar subsídios agrícolas.
"Estamos interessados em um processo de interação econômica em torno de temas concretos e, se os Estados Unidos querem nos ajudar, uma das formas importantes é eliminar os subsídios agrícolas que hoje em dia constituem um verdadeira muralha de proteção à economia norte americana."
Mais tarde, no Itamaraty, Lula disse estar "confiante" em relação à possibilidade de, no encontro de hoje com Bush, conseguir alguma sinalização sobre eventual redução ou o fim da taxação ao álcool brasileiro.
Segundo Garcia, o propósito da visita de Bush não é pedir intermediação na relação dos EUA com a Venezuela. "Não acredito que o presidente Bush faça esse pedido. O Brasil sempre esteve disposto a participar de qualquer processo que facilite as relações, mas não acho que seja o caso. Acho que esse problema pode ser perfeitamente ser resolvido no âmbito das relações bilaterais".

Doha
No encontro com Köhler, Lula pediu ajuda para destravar a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial, paralisada em julho por desentendimentos entre os EUA e a União Européia sobre o alcance da redução dos subsídios agrícolas.
De acordo com Garcia, Lula fez um apelo ao alemão para que montadoras alemãs continuem o processo de ajuste dos motores ao álcool.


Texto Anterior: Desembarque de presidente fecha aeroporto e provoca atraso em vôos
Próximo Texto: Memorando adia decisão sobre tarifas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.