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Subsídios dos EUA são "nefastos", diz Lula
Presidente deu a declaração em Brasília, um dia antes de se encontrar com o presidente George W. Bush em São Paulo
Petista disse esperar um acordo com o presidente norte-americano para que os países pobres tenham chance de se desenvolver
PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No dia da chegada de George
W. Bush ao Brasil, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse
ontem, em Brasília, que os subsídios dos EUA para a agricultura são "nefastos" para o livre
comércio. Ele se encontra com
o presidente norte-americano
hoje, em São Paulo.
Lula afirmou que conversará
com Bush sobre o tema e que
espera chegar a um acordo para
que "nas próximas três a quatro
semanas possamos anunciar ao
mundo que finalmente os países mais pobres terão uma
chance de se desenvolver".
O presidente deixou claro
que entende as pressões internas de Bush, ao cobrar uma
igualdade na concorrência. "O
que nós queremos é que os
EUA possam diminuir os subsídios, tão importantes para os
agricultores americanos, mas
tão nefastos para o livre comércio que tanto apregoamos", disse o brasileiro, de improviso, ao
final de encontro com o presidente alemão, Horst Köhler, no
Palácio do Planalto.
A declaração revela mais um
ponto de discórdia entre os governos do Brasil e dos EUA,
que, nesta semana, mostraram
ter visões políticas e comerciais
distintas. Se for seguido o roteiro das chancelarias dos dois
presidentes, será uma conversa
de surdo-mudo, com Bush querendo discutir o venezuelano
Hugo Chávez, o que o petista
resiste a fazer, e Lula pedindo o
fim da barreira ao álcool combustível, o que Bush já disse
que não acontecerá.
O assessor internacional de
Lula, Marco Aurélio Garcia, reforçou o discurso improvisado
do presidente ao afirmar ontem que, se os EUA querem
ajudar a América Latina, deveriam cortar subsídios agrícolas.
"Estamos interessados em
um processo de interação econômica em torno de temas concretos e, se os Estados Unidos
querem nos ajudar, uma das
formas importantes é eliminar
os subsídios agrícolas que hoje
em dia constituem um verdadeira muralha de proteção à
economia norte americana."
Mais tarde, no Itamaraty, Lula disse estar "confiante" em relação à possibilidade de, no encontro de hoje com Bush, conseguir alguma sinalização sobre eventual redução ou o fim
da taxação ao álcool brasileiro.
Segundo Garcia, o propósito
da visita de Bush não é pedir intermediação na relação dos
EUA com a Venezuela. "Não
acredito que o presidente Bush
faça esse pedido. O Brasil sempre esteve disposto a participar
de qualquer processo que facilite as relações, mas não acho
que seja o caso. Acho que esse
problema pode ser perfeitamente ser resolvido no âmbito
das relações bilaterais".
Doha
No encontro com Köhler,
Lula pediu ajuda para destravar
a Rodada Doha de liberalização
do comércio mundial, paralisada em julho por desentendimentos entre os EUA e a União
Européia sobre o alcance da redução dos subsídios agrícolas.
De acordo com Garcia, Lula
fez um apelo ao alemão para
que montadoras alemãs continuem o processo de ajuste dos
motores ao álcool.
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