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Nos EUA, Maluf será processado por "roubo"
Autoridades americanas consideram que deputado desviou US$ 11,6 mi de obras públicas quando prefeito; ele nega
Como Estados Unidos não reconhecem imunidade parlamentar brasileira, ex-prefeito será detido
caso viaje para o país
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
A Justiça dos EUA abriu, por
decisão do júri popular, processo criminal contra o ex-prefeito
de São Paulo e deputado federal Paulo Maluf pelo suposto
"roubo" (nesses termos) de
US$ 11,6 milhões, que teriam sido desviados de obras públicas.
Um pedido de prisão foi decretado. Se entrar nos EUA,
Maluf será detido. A imunidade
parlamentar brasileira não é
reconhecida pelas autoridades
norte-americanas.
Segundo o procurador Robert Morgenthau, o dinheiro
rastreado em Nova York foi
usado para financiar a campanha de Maluf ao governo do Estado em 1998 e a sua sucessão à
prefeitura em 1996. A assessoria do deputado disse que ele
"não tem e nunca teve conta"
nos EUA.
Pelo que a lei americana tipifica de "posse criminosa de
bens públicos roubados em primeiro grau", Maluf pode ser
condenado a 25 anos de prisão.
O ex-prefeito é réu ainda por
"posse criminosa de bens públicos roubados em segundo
grau" (pena de 15 anos) e "conspiração" (mais quatro anos).
Além de Maluf, são réus no
processo: seu filho Flávio, Simeão Damasceno de Oliveira,
advogado e ex-diretor financeiro da empreiteira Mendes Júnior, Joel Guedes Fernandes,
ex-caixa da mesma construtora, e o doleiro Vivaldo Alves.
Os autos do processo acusam
os réus de "roubar quantias significativas de dinheiro da cidade de São Paulo".
Para Morgenthau, a Justiça
americana foi "conservadora"
no indiciamento por considerar só provas materiais no processo, embora haja evidências
de que uma quantia superior
aos US$ 11,6 milhões tenha sido
movimentada ilegalmente.
Extratos bancários, de novembro de 97 a maio de 99, de
posse da procuradoria, mostram a movimentação de US$
140 milhões na conta batizada
de Chanani. O processo aberto
ontem se restringe a transações
de janeiro a agosto de 1998.
"O estranho é que tem mais
dinheiro saindo do que entrando", disse. A explicação, segundo a Justiça dos EUA: Maluf e
filho recebiam propinas em
transferências ilegais, que
eram remetidas por meio de
doleiros para a agência do Banco Safra em Nova York.
A Chanani foi aberta por Alves, mas teria os Maluf como
beneficiários. Os depósitos
eram depois transferidos para
outra conta, também na agência nova-iorquina do Safra,
atribuída ao ex-prefeito.
O dinheiro ilegal que abastecia as contas de Maluf nos EUA,
ainda segundo a Justiça, veio de
desvios na construção da avenida Água Espraiada. Empreiteiras e subsidiárias inflavam orçamentos e geravam faturas
falsas, que eram cobradas da
Empresa Municipal de Urbanização. A propina era administrada por Oliveira e Fernandes.
A procuradoria americana
revela que, dos EUA, o dinheiro
era remetido para contas secretas de Maluf na ilha de Jersey.
De Jersey, o dinheiro retornaria para o Brasil sob a forma de
falso investimento para a Eucatex, empresa da família Maluf.
"A investigação fechou o ciclo da lavagem", diz o promotor
Silvio Marques, responsável
pela ação que pede a repatriação do dinheiro.
"As autoridades americanas
chegaram à mesma conclusão
que o Ministério Público Federal", diz o procurador da República Rodrigo de Grandis.
Colaborou FREDERICO VASCONCELOS, da Reportagem Local
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