São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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GOIÁS
Senadores podem estar envolvidos em desvio de dinheiro de banco estadual
Juiz pede ao Supremo para investigar Iris e Maguito

LUCIO VAZ
enviado especial a Goiânia

A Justiça Federal de Goiás formalizou ontem ao Supremo Tribunal Federal o pedido para que os senadores Iris Rezende e Maguito Vilela, ambos do PMDB, sejam investigados sobre a possível participação no desvio de R$ 5 milhões do BEG (Banco do Estado de Goiás).
O pedido foi feito pelo juiz federal Alderico Rocha Santos, da 5ª Vara da Justiça Federal em Goiás, que encaminhou ao STF as cópias do inquérito que apura o desvio.
A apuração inicial do Ministério Público levou à prisão, sexta-feira passada, de Otoniel Machado Carneiro -irmão e suplente do senador Iris Rezende-, acusado de desviar o dinheiro para o comitê de campanha do PMDB em 98.
Otoniel coordenou a campanha de Iris ao governo do Estado e é acusado de receber os R$ 5 milhões em espécie do liquidante da Caixego (Caixa Econômica do Estado de Goiás), Edivaldo Andrade, em outubro do ano passado. Segundo o Ministério Público, gravações de conversas telefônica e testemunhas confirmam a operação.
O juiz da 5ª Vara encaminhou o pedido ao STF atendendo solicitação do próprio Ministério Público para que "possam ser aprofundadas as investigações quanto à eventual participação dos senadores Iris Rezende e Maguito Vilela".
O STF pode arquivar o caso ou determinar a abertura de inquérito contra os senadores.
O advogado de Otoniel, Nei Teles, entrou com um pedido de habeas corpus no TRF (Tribunal Regional Federal), que foi indeferido.
Maguito Vilela, que era governador durante a campanha eleitoral do ano passado e se elegeu para o Senado, foi citado em conversas telefônicas entre Otoniel e Edivaldo. As conversas foram gravadas com autorização judicial.
O juiz Alderico marcou para hoje o depoimento das oito pessoas envolvidas na fraude, entre elas Otoniel e Edivaldo.
As gravações não incriminam diretamente Iris Rezende. Quando recebeu o primeiro telefonema de Otoniel, no dia 1º de fevereiro, o senador logo avisou: "Esse telefone não é bom". Nas demais ligações, Iris parecia falar por códigos. Para pedir um novo número de telefone, referia-se a uma nova "placa".
Nos dias seguintes, o senador passou a se referir a Edivaldo como o "paciente". Quando tratava da operação para soltar Edivaldo da prisão, falava em "receber alta". Pedia ao irmão que o assunto não fosse tratado por telefone. As gravações duraram 15 dias.
Maguito condenou ontem a forma de atuação do Ministério Público e da Justiça Federal. "Devem apurar, mas estão se precipitando. A Justiça não precisava prender Otoniel. Ele tem residência fixa e tem problemas de saúde."
Iris não foi ao Senado ontem, mas, por meio de sua assessoria, pediu inscrição para fazer pronunciamento na sessão de hoje.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, afirmou ontem que a Corregedoria da Casa só entrará no caso se as denúncias atingirem diretamente Iris Rezende.


Colaborou Flávia de Leon, da Sucursal de Brasília

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