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CELSO PINTO
BC vai captar mais de US$ 1 bi
O Banco Central espera levantar
mais de US$ 1 bilhão em emissões
de bônus internacionais, em três
ou quatro semanas. Este dinheiro
se somará aos US$ 8 bilhões que o
BC poderá gastar para aliviar a
pressão sobre o câmbio até junho.
O acordo com o FMI, cujos termos foram anunciados ontem,
prevêem que o setor público aumentará seu endividamento, este
ano, em US$ 8 bilhões. O presidente do BC, Armínio Fraga, deixou claro à coluna que espera
captar uma parte expressiva desses recursos num prazo curto.
Ele disse, também, que 4 dos 6
maiores bancos americanos já
anunciaram ao BC que vão manter suas linhas de curto prazo. É
um compromisso superior a US$
10 bilhões.
Hoje, as linhas comerciais e interbancárias somam cerca de US$
40 bilhões, uma redução de US$ 20
bilhões em relação ao total que havia antes da crise da Rússia. O retorno destas linhas de financiamento é vital para aliviar a pressão sobre o câmbio.
A partir desta semana, várias
autoridades do governo farão uma
"blitz" ao redor do mundo, explicando os termos do acordo e tentando recompor as linhas de crédito. Fraga disse que no caso dos
bancos europeus e japoneses, que
atuam mais em conjunto, ainda
não houve ofertas de linhas e o
processo deverá ser mais demorado.
O FMI vai expor aos países ricos
do G-10 o programa de ajuste brasileiro. Em seguida, Fraga, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e
outros diretores do BC vão explicar os detalhes do programa. Em
Nova York, a reunião com os bancos será na sede do Fed (banco central) de Nova York e, em Londres,
na sede do Banco da Inglaterra.
No entanto, as autoridades do G-10 não vão participar diretamente
do esforço de recomposição do crédito privado. Fraga argumenta
que esquemas involuntários, ou
que supõem o uso de garantias para a retomada do crédito, acabam
criando duas classes de papéis brasileiros, tornando mais difícil emitir papéis sem garantias. O Brasil
vai tentar convencer os bancos. No
final do ano passado, tentou e foi
malsucedido.
A grande diferença, sustenta
Fraga, é que o Brasil vai tentar
provar aos bancos que não precisa,
de fato, de mais do que os bancos
já têm no país e que é um terço menor do que tinham antes da crise.
A esperança é que os banqueiros
confirmem a regra de que os bancos estão sempre prontos a emprestar a quem não precisa.
A mágica para não precisar de
mais dinheiro de curto prazo está
no ajuste duríssimo nas contas externas. No ano passado, o déficit
em conta corrente foi de US$ 34,9
bilhões. Neste ano, cairia para US$
17 bilhões, graças a um superávit
na balança comercial de US$ 11 bilhões.
Fraga diz que os US$ 17 bilhões
podem ser facilmente financiáveis
via ingresso de investimentos diretos. Já entraram US$ 2 bilhões e,
com as privatizações (especialmente do setor elétrico) seria fácil
manter a entrada em US$ 1,5 bilhão por mês.
Além disso, as captações da República dariam uma contribuição
importante. Fraga diz que existem
algumas opções. Pode ser feita
uma emissão tradicional, ou um
papel com opção de remuneração
por câmbio ou Selic (num esquema semelhante ao feito pelo México e Tailândia). Pode, ainda, ser
reaberta uma emissão anterior de
bônus da República.
O BC já recolheu várias propostas de bancos mas acha que, se
emitir em três ou quatro semanas,
pode conseguir melhores condições. Pode haver emissão de mais
de um tipo de papel, conforme o
mercado, cada uma delas superior
a US$ 1 bilhão.
Outra razão para não haver menos pressão a curto prazo é a possibilidade de o BC gastar US$ 3 bilhões em março, US$ 2 bilhões em
abril, US$ 1,5 bilhão em maio e
US$ 1,5 bilhão em junho no mercado cambial. O cálculo para março
e abril, segundo Fraga, embute
uma margem de segurança. Na
verdade, o BC acha que não precisará vender tudo isso no mercado,
mas não quer que o mercado se
anime a pressioná-lo por achar o
limite muito pequeno.
O alívio na pressão por recursos
externos, de outro lado, ajuda a reduzir os juros reais. Três outros fatores ajudam a cortar os juros: um
câmbio que deve se valorizar, mês
a mês, na previsão do BC, o superávit primário fiscal de 3,1% do
PIB e a retração econômica.
A previsão embutida no acordo é
de um juro real de 10% neste ano e
menos do que isso nos próximos
dois anos. Isso se compara a um juro real de 27% em 98 e 30% nos
quatro meses que antecederam a
livre flutuação. Como não será
preciso defender o câmbio, há
mais credibilidade de que o juro
real, de fato, pode cair.
Fraga deixou claro que vai calibrar os juros olhando a inflação
medida pelo custo de vida, não pelo IGP, e olhando um período mais
longo, não cada mês. Além disso,
vai monitorar outras variáveis, como o nível de atividade, preços de
ativos e nível de câmbio. Se acender um sinal vermelho, sobem os
juros para segurar a inflação, que
será o objetivo básico da ação do
BC. Fraga diz que mesmo que os
juros reais cheguem a 20%, em
média, ainda daria para conter o
aumento da dívida líquida do setor público.
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