São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA
Ministro admite "bater bumbo" e diz que líder do MST é "melhor percussionista" porque cria conflitos
Stedile cria mais notícias, diz Jungmann

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife


O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) disse ontem, ao anunciar repasse de terras para assentar famílias, que é ""um percussionista do governo" -mas admitiu que João Pedro Stedile, do MST, é ""melhor percussionista".
""Bato o bumbo e faço barulho há dois anos e meio, antes mesmo de o presidente pedir", disse Jungmann, referindo-se às declarações feitas por Fernando Henrique Cardoso no dia 3, quando o presidente cobrou da equipe maior divulgação das ações sociais. ""Vamos bater mais bumbo, fazer mais barulho."
Para Jungmann, o ""barulho" que faz ""irrita" o coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Stedile, a quem considera, apesar disso, ""melhor percussionista" do que ele. ""Stedile cria mais notícias porque cria conflitos."
Jungmann fez as declarações ao anunciar em Recife (PE) o repasse para o Incra de 14,5 mil hectares de terras onde já existem cerca de 500 famílias assentadas.
A área (15 fazendas) foi confiscada de envolvidos no ""escândalo da mandioca", uma das maiores fraudes contra o poder público, ocorrida em Pernambuco entre 79 e 81.
As propriedades pertencem a União desde 95, mas, por ""questões burocráticas", só ontem foram para o Incra. A medida permitirá regularizar assentados.
Jungmann respondeu ainda declarações do coordenador do MST publicadas ontem na Folha, de que as invasões de terra vão aumentar e de que o ministro teria sido ""escalado" para mostrar ""projetos ilusórios" de reforma agrária.
""Ele (Stedile) não consegue nunca provar que os projetos são ilusórios", disse. ""Ele gostaria de uma radicalização à direita e isso não vai acontecer porque a reforma agrária vai muito bem."
Enquanto Jungmann ""batia bumbo" na sede estadual da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), local da solenidade, cerca de 50 trabalhadores rurais ligados ao MST faziam uma manifestação silenciosa fora do prédio. Com esparadrapo na boca, os manifestantes exibiam faixas de protesto.
O ministro negou a informação divulgada pelos sem-terra de que ele teria condicionado a reunião marcada para hoje com o MST ao silêncio dos lavradores. ""A lei do silêncio não atinge os sem-terra."
Ontem, Jungmann e a secretária nacional da Administração, Cláudia Costin, assinaram protocolos que autorizam o repasse imediato ao Incra, após sentença judicial, de 11 mil hectares de terra em litígio, também referentes ao ""escândalo da mandioca".


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