RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, depois de celebração ecumênica no Palácio do Planalto, esperar que Deus ajude a população brasileira mais sofrida, "sobretudo os desempregados", que teriam menos motivos neste momento para celebrar a Páscoa.
"Que Deus possa ajudar o povo brasileiro, sobretudo aqueles que estão sofrendo, sobretudo aqueles que estão desempregados. Acho que nós temos de ter a compreensão de que a Páscoa será mais bem comemorada por uns do que por outros", disse o presidente, depois de ser estimulado por jornalistas presentes a transmitir uma mensagem de Páscoa à população brasileira.
"O que vale na Páscoa não é a questão econômica, o que vale é a paixão que a gente tem, a disposição de servirmos a nossos semelhantes", acrescentou Lula.
De acordo com dados oficiais, o desemprego atingiu, no último mês de fevereiro, 2,5 milhões de pessoas nas seis maiores regiões metropolitanas do país, o que representa 12% do total da força de trabalho nacional.
Numa pesquisa do Datafolha feita no dia 1º do mês passado, 49% dos entrevistados avaliavam que o desemprego era o principal problema do país. Um ano antes desse levantamento, o índice registrado era de 31%. Os 49% aferidos só não foram maiores que os 53% registrados em dezembro de 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
O presidente participou da celebração, realizada em um dos salões do Palácio do Planalto, ao lado da primeira-dama, Marisa Letícia. Assessores e funcionários do Palácio acompanharam o ato, que teve dois corais e, além dos católicos, contou com a participação de protestantes.
Ao final da celebração, Lula distribuiu autógrafos e posou para fotos em um dos corais. Uma integrante do coral pediu ao presidente que fizesse "um solo", mas Lula recusou, dizendo: "Não sei cantar".
Questionado por jornalistas, o presidente não quis fazer comentários sobre os sem-terra.

Lula e Jesus
O assessor especial da Presidência da República Frei Betto fez ontem paralelos entre o presidente e a vida de Jesus Cristo durante a celebração ecumênica no Palácio do Planalto. Além de dizer que o programa Fome Zero é a "multiplicação dos pães e peixes", o religioso afirmou que Lula, assim como Jesus, usa o poder para servir.
"O programa Fome Zero nada mais é que a versão política da multiplicação dos pães e peixes realizada por Jesus" disse, durante sua homilia, acrescentando que o maior "escândalo do século 21" consiste no fato de pessoas ainda morrerem de fome no mundo.
Frei Betto, que é amigo e conselheiro de Lula, fez outro paralelo entre a trajetória de Jesus e a do presidente brasileiro: "Jesus Cristo acentuava [...] que o poder é serviço, não é mando, não é tirania, não é arrogância, é um serviço. [...] O presidente da República, ao tomar posse em 1º de janeiro de 2003, terminou seu discurso ressaltando: "Agora, sou o servidor público número um'", disse.
O assessor da Presidência criticou também o filme "A Paixão de Cristo", do diretor e ator norte-americano Mel Gibson. "É duro ver um filme de grande repercussão centrar toda a vida de Jesus na dor, e não no amor. Temos que acentuar a dimensão amorosa de Jesus", afirmou.


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