São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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Protógenes visa carreira política, diz corregedoria

Sergio Lima/Folha Imagem
Protógenes (dir.) depõe à CPI dos Grampos, ao lado de Nelson Pellegrino (esq.) e Marcelo Itagiba

ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relatório final do inquérito da Corregedoria da Polícia Federal que investiga supostas irregularidades cometidas pelo delegado Protógenes Queiroz o acusa de propagar a ideia de que o seu trabalho foi cerceado, atribuindo-lhe a condição de "vítima", com objetivo claro de dar impulso à carreira política.
O documento diz que as acusações despertaram interesse do Ministério Público, de parte da imprensa e do "público em geral", "o que resultou para o personagem, Protógenes Queiroz, a pretensa posição de vítima e bastião da moralidade". Afirma ainda que essa atitude lhe conferiu "projeção e notoriedade midiática em evidente movimento para ganho de espaço no campo político".
Semana passada, a Corregedoria da PF de Minas Gerais instaurou processo disciplinar administrativo contra Protógenes por suposto uso do cargo para obter proveito político partidário. Ciceroneado principalmente pelo PSOL, o delegado participou de atos políticos e de comícios pelo país.
O relatório, assinado pelo delegado Amaro Vieira Ferreira, acusa Protógenes de ferir a Lei das Interceptações introduzir "ocultamente" agentes da Abin nas investigações da Satiagraha e de quebra de sigilo funcional ao vazar os detalhes da operação para jornalistas da Rede Globo. As investigações duraram cerca de nove meses.
O inquérito agora será enviado ao Ministério Público Federal, que poderá oferecer ou não denúncia à Justiça. Se isso ocorrer, o delegado passará de investigado a réu em uma ação penal. O documento também segue para a cúpula da PF, que decidirá pela abertura de processo administrativo disciplinar, que pode resultar em demissão se Protógenes for considerado culpado.

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Com 88 páginas, o relatório da corregedoria traça um perfil profissional e psicológico de Protógenes. Diz que o delegado não gostava de se reportar aos superiores imediatos e que, à frente da Satiagraha, passou por cima da Diretoria de Inteligência Policial, só dando satisfação ao então diretor-geral da PF Paulo Lacerda.
Segundo a investigação, com a troca de comando na PF, Protógenes passou a ser pressionado a se reportar diretamente ao delegado Daniel Lorenz, e "não gostou da nova sistemática". Essa mudança, segundo Amaro, ensejou pedido de apoio à Abin (chefiada po Lacerda), "com a destinação de recursos e equipamentos de modo oficioso", "sem qualquer controle", "exatamente nos mesmos moldes das ações que até então lhes eram possibilitadas".
A partir daí, diz a corregedoria, os agentes da Abin foram introduzidos, tomando conhecimento de dados sigilosos e realizando "trabalhos de vigilância, acompanhamento de alvos, registros fotográficos, filmagens, gravações ambientais, e análise de documentos igualmente sigilosos".
Durante seis horas de depoimento ontem à CPI dos Grampos, Protógenes se recusou a responder perguntas sobre a participação da Abin e outras supostas irregularidades cometidas por ele. Disse que não realizou escutas ilegais e que não investigou autoridades como a ministra Dilma Rousseff.


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