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Procurador apura suposto esquema com ações de tele
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O procurador Luiz Francisco de
Souza, do Ministério Público Federal em Brasília, investiga se negócios com ações feitos por duas
empresas -Rivoli e 141 Participações- serviram para pagar comissão ao empresário Ricardo
Sérgio de Oliveira por ele supostamente ter favorecido aliados do
empresário Carlos Jereissati na
privatização da telefonia em 1998.
Entre março e julho de 1999, essas duas empresas fizeram transações com ações da Telemar. O negócio produziu lucro de R$ 30,9
milhões para o Grupo La Fonte,
que pertence a Jereissati.
Luiz Francisco de Souza, que
comanda as investigações, suspeita que Ricardo Sérgio tenha ligações com a Rivoli e com a 141 Participações e trabalha com a hipótese de o lucro obtido com a transação de ações ter sido inflado
contabilmente para encobrir a comissão que supostamente teria sido paga ao ex-diretor do Banco
do Brasil. As duas empresas não
produzem nada. A sua função é
fazer negócios com ações de outras companhias.
"Há semelhança de datas, valores e, na sequência dos pagamentos, negócios e crescimento patrimonial de Ricardo Sérgio. São indícios que reforçam nossa hipótese de que as empresas podem ter
sido usadas para pagar propina",
afirma o procurador.
Quando houve a privatização
das companhias telefônicas, em
1998, Ricardo Sérgio era diretor
da área internacional e comercial
do Banco do Brasil e exercia forte
influência sobre a Previ, o fundo
de pensão dos funcionários da
instituição. Sob o comando de Ricardo Sérgio, a Previ entrou na
privatização e garantiu que a Telemar fosse comprada por aliados
do empresário Carlos Jereissati.
Três parcelas
No início do ano passado, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães declarou que Jereissati confidenciara a dois amigos que Ricardo Sérgio teria cobrado uma
comissão de 3,4% sobre R$ 2,7 bilhões -o valor do capital das telefônicas privatizadas sob o guarda-chuva da Telemar no leilão de
1998- para ajudar na composição do consórcio que comprou as
telefônicas de 16 Estados.
O percentual corresponderia a
cerca de R$ 90 milhões, que deveriam ser pagos em três parcelas,
das quais apenas uma teria sido
quitada. O elo entre o ex-diretor
do BB e as empresas Rivoli e 141
seria Luiz Rodrigues Corvo, advogado de Ricardo Sérgio e também
do grupo Jereissati.
Em entrevista ao jornal "Estado
de Minas", no mês passado, Corvo admitiu ter participado da
criação da Rivoli. E uma ata de
reunião da empresa em 26 julho
de 1999 mostra que houve autorização para o advogado representar a empresa.
A Rivoli foi criada em dezembro
de 1998 por Célia Veronezi e Monica Picciarelle e Souza, que trabalham no escritório de Luiz Corvo em São Paulo. Em março de 99,
o Grupo La Fonte comprou a Rivoli. Após a compra, o grupo, por
meio de sua empresa La Fonte Telecom S/A, injetou R$ 32 milhões
na Rivoli. O aporte foi feito com a
transferência de 3,58% das ações
que as empresas de Jereissati possuíam na Telemar.
Após essa operação, a Rivoli repassou 3,30% dos 3,58% para a
empresa 141 Participações -da
qual é controladora-, o que representou um investimento de R$
29,7 milhões. Posteriormente, a
141 vendeu as mesmas cotas, em
proporções iguais, para a Andrade Gutierrez, a Macal e a Inepar. O
trio, juntamente com a La Fonte,
comanda a Telemar. Com a operação, o capital da 141 Participações passou para R$ 60,6 milhões.
Segundo Luiz Francisco, nessa
transação, a diferença entre os R$
60,6 milhões e o valor inicial das
ações representa o lucro, de R$
30,9 milhões, que ficou no caixa
da Rivoli. A operação, acredita o
procurador, funcionou como
uma espécie de emissão de notas
frias e encobriu o pagamento de
comissão a Ricardo Sérgio.
Improbidade
Desde 1999, o procurador Luiz
Francisco está à frente de uma investigação para apurar se houve
enriquecimento ilícito, fraude e
improbidade administrativa nas
privatizações.
E, no rastro dos aportes de capital, chamou a atenção do procurador o fato de que, no mesmo período em que a Rivoli e a 141 Participações receberam aportes de capital -entre março e agosto de
1999-, Ricardo Sérgio fez pelo
menos dois bons negócios no ramo imobiliário.
Uma de suas empresas, a Planefin, comprou em condições vantajosas, por R$ 11 milhões no total,
dois prédios do Petros, o fundo de
pensão dos funcionários da Petrobras. Esse conjunto de informações, na interpretação do procurador, poderia servir para corroborar a denúncia feita por Antonio Carlos Magalhães.
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