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JANIO DE FREITAS
O segundo problema
O governo e o PT, obcecados em sufocar as resistências e as críticas ao projeto governamental de reforma previdenciária, estão sob o risco de se
surpreender com problema
equivalente em relação à outra
reforma, a tributária. Neste caso, nada a ver com petistas fiéis
ao seu e ao passado partidário,
nem com questionamentos ao
corte de direitos.
Quase em silêncio, esquentam
as conversações entre Estados
em torno do tratamento dado
pelo projeto de reforma tributária ao ICMS, o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e
Serviços. Este é um imposto estadual e que tem seus valores
definidos, segundo o produto ou
serviço taxável, por critérios de
cada Estado.
A possibilidade de variar as
alíquotas de ICMS é que permite aos Estados incentivar mais
certas atividades e atrair novos
empreendimentos. Atitude cuja
exacerbação resultou na chamada "guerra fiscal", cujo
exemplo mais notório foi o da
fábrica Ford, atraída do Rio
Grande do Sul para a Bahia.
Caso a que foi atribuída certa
influência na derrota eleitoral
do PT gaúcho.
Para acabar com a "guerra
fiscal", o projeto de reforma cria
uma unificação do ICMS. O que
é visto por governadores de Estados menos desenvolvidos como a retirada da sua possibilidade de atrair investimentos
novos, tendentes sempre, em
condições iguais, a continuar
concentrando-se nas regiões Sudeste e Sul. Além disso, ficam dificultadas, senão impedidas, as políticas para incrementar atividades mais promissoras entre
as já existentes no Estado.
O ICMS, vê-se, não é questão
simples e, tanto ao permitir a
"guerra fiscal" como se a impedir, tem importante significado
socioeconômico para cada Estado. São Paulo, Paraná, Rio
Grande do Sul só têm motivos
para não desejar disputas de
condições especiais para novos
investimentos. Já são atraentes.
Mas em muitos dos outros Estados a coisa é outra.
Em termos de Congresso, de
votação, a reforma tributária
pode tornar-se mais problemática para o governo do que o
projeto para a Previdência. As
restrições às aposentadorias e às
pensões convêm também aos
governos estaduais, logo, deles
não partiriam estímulos contrários à intenção do governo Lula.
Com o ICMS é diferente, por
parte de vários governadores e
por posição de parlamentares.
Uma idéia que se expande é a
de favorecimento a São Paulo
no projeto tributário. Como
consequência da presença dominante de paulistas no Conselho de Desenvolvimento Social e, de modo absoluto, no centro
de decisões do governo. Com reflexos discutíveis como o ICMS
ou tão incontestáveis como a
discriminação de que se queixam a governadora Rosinha
Matheus e outros políticos fluminenses: pelo projeto, o ICMS
passará a ser cobrado sempre no
Estado de origem do produto,
exceto um único: o petróleo. Este
terá o ICMS cobrado pelo Estado consumidor, em benefício de
São Paulo, que é o destino da
maior parte do petróleo produzido no Estado do Rio.
O projeto de reforma previdenciária está na superfície,
mas a fervura está nas discussões subterrâneas do projeto de
reforma tributária.
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