São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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Marta rejeita interferência em eleição

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A prefeita paulistana, Marta Suplicy, marcha para a candidatura à reeleição com um grave problema: as relações de seu grupo político com o governo federal, em especial com o ministro José Dirceu (Casa Civil), estão para lá de ruins.
Preocupado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já manifestou a auxiliares o desejo de melhorar o clima entre membros de seu governo e da gestão Marta. O principal conflito hoje é entre Dirceu e o secretário de Governo de Marta e candidato a vice, Rui Falcão.
Dirceu quis evitar a indicação de Falcão para vice, a fim de oferecer a vaga ao PMDB de Orestes Quércia, mas foi derrotado. Reservadamente, interlocutores de Falcão, que já foi próximo a Dirceu, dizem que a campanha não aceitará interferências.
O episódio mais recente que contribui para desgastar as relações foi a entrevista do secretário-geral do PT, Silvio Pereira, ao jornal "Valor" na última segunda.
Ligado a Dirceu, Pereira disse que a eventual entrada do tucano José Serra na disputa poderia "complicar" a reeleição da prefeita. Ao analisar dificuldades da prefeita, citou também o casamento dela com o franco-argentino Luis Favre, o que teria contrariado o eleitorado conservador.
A ligação de Pereira com o ministro Dirceu deixou o PT paulistano desconfiado.
Como Pereira é o coordenador do GTE (Grupo de Trabalho Eleitoral), que definirá as estratégias do partido no pleito municipal, as palavras dele foram vistas como uma tentativa de intromissão.
Mas Marta e Falcão já enviaram um recado a Dirceu e à cúpula do PT e do governo: o GTE não dará a linha da campanha da prefeita.
Numa resposta a Pereira e a Dirceu, auxiliares da prefeita dizem que o governo federal deveria melhorar o gerenciamento de seus projetos antes de querer ditar os rumos da eleição em SP. Eles reclamam que projetos de interesse de Marta estão emperrados na gestão federal por falta de competência para que saiam do papel.
Mais: o PT paulistano diz que o PMDB usou a indicação de Falcão para vice como desculpa para não fazer a aliança. O motivo verdadeiro para o lançamento do presidente do PMDB, Michel Temer, como pré-candidato a prefeito teria sido a recusa do Planalto em oferecer cargos ao ex-governador Orestes Quércia. É Quércia quem controla o PMDB de São Paulo.
Lula, que gosta de Marta e reconhece a importância dela para a sua eleição em 2002, busca uma mediação por meio de interlocutores fora do grupo de Dirceu. O principal deles é o presidente do PT, José Genoino, que tem boa relação com a prefeita. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, também ajuda na operação.


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