São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Atividade será suspensa somente até encontro com Lula, requisitado pelos índios para esta semana

Chefes cintas-largas devem desativar garimpo na quarta

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, NA TERRA INDÍGENA ROOSEVELT (RO)

Índios cintas-largas decidiram desativar até o dia 12 o garimpo da grota do Lage, o único que, segundo eles, está em atividade dentro da terra indígena Roosevelt, em Rondônia. O garimpo de diamantes funciona há seis meses tocado pelos próprios indígenas.
A decisão foi tomada em uma reunião de 30 líderes cintas-largas na manhã de anteontem na aldeia do cacique João Bravo Cinta Larga, a 683 km de Porto Velho.
À tarde, chegaram à aldeia o delegado da Polícia Federal Mauro Sposito e funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio), que foram informados da decisão. A Agência Folha acompanhou esse segundo encontro.
Os índios solicitaram uma reunião, na próxima semana, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Dilma Rousseff (Minas e Energia) para discutir a regularização da exploração de diamantes por eles em suas terras.
Por falta de regulamentação, a exploração mineral em terras indígenas é proibida.
No dia 7 de abril, ao menos 29 garimpeiros morreram em conflito com os índios no garimpo chamado Sossego, dentro da terra indígena. Desde então, o acesso à reserva é vigiado por soldados do Exército, policiais federais e militares em quatro barreiras.
"Nós vamos parar [o garimpo] só até conversar com Lula. Vamos lá conversar com ele e depois passar tudo para a comunidade", disse João Bravo, que pretende ir a Brasília com mais 14 lideranças.
O líder Pio Cinta Larga disse que os índios dirão a Lula que o governo não dá assistência de saúde e escolar aos cintas-largas, e que os índios garimpam a terra para sobreviver e por se sentirem no direito de explorá-la.
Para o delegado Mauro Sposito, a decisão dos cintas-largas de desativar o garimpo diminui a tensão do lado de fora da reserva, já que os garimpeiros ameaçam invadi-la ou já estariam nela.
Desde a retomada do garimpo, os índios dizem que a área voltou a ser invadida por garimpeiros, que dizem que alguns índios os contratavam para o trabalho.
Na reunião de anteontem, índios contaram a Sposito que viram atividade em uma parte da reserva em Mato Grosso. O delegado disse que fará amanhã um sobrevôo acompanhado para tentar localizar esse garimpo.
As lideranças que participaram da reunião vieram das quatro áreas que formam a terra indígena, que tem ao todo 2,7 milhões de hectares. Um dos índios, Oita Matina Cinta Larga, chegou à aldeia em um avião monomotor alugado por R$ 1.200/hora.
Na reunião, Oita Matina afirmou que os índios têm direito de ter carros e televisão porque são brasileiros. "Nós temos capacidade de tocar o garimpo, não estamos com pressa [de explorar tudo]. Queremos fazer a coisa certa, mas não podemos entregar o que é nosso para o branco, vamos defender o que é nosso", disse.
O cacique Tatarê Cinta Larga, que fez o discurso mais exaltado, disse que os cintas-largas não têm armas, como afirmam garimpeiros. "Nós não temos armas, nossas armas são as flechas. Nós reconhecemos as armas dos brancos. Eles têm metralhadora."



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