São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

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Envolvidos dizem que a operação foi feita dentro da lei do Uruguai

Jorge Araújo/Folha Imagem
O empresário Israel Lublinerman em seu escritório em Montevidéu, onde auxilia empresas a montar firmas dentro da Lei Uruguai


da enviada especial a Montevidéu

Em um raio de menos de dois quilômetros, na extensão da avenida 18 de Julho, centro comercial de Montevidéu, funcionam os escritórios dos personagens centrais -e alguns talvez coadjuvantes, como preferem se colocar- da operação que criou a Federal Town International Corporation.
Os endereços e as identidades dos personagens uruguaios envolvidos na criação da empresa para o Banco Marka, fornecidos à Folha, conferem.
A natureza da atividade de cada um, idem. Participação direta na operação eles não negam e se apressam a explicar: "Todos os trabalhos que fazemos aqui seguem os trâmites legais do Uruguai. É tudo regular", diz Rafael Sander, o sócio da KPMG Uruguai que intermediou a operação para o Banco Marka.
Sander, contudo, não fala sobre a operação específica do Marka. "Só podemos falar com a permissão do cliente", disse, ao ser questionado sobre a sua contratação pelo Banco Marka para estruturar a empresa Federal Town International Corporation.
Moisés Polak, contador com um luxuoso escritório na rua Constituyente, diz que cobra US$ 2.000 para constituir uma empresa com capital social de US$ 1 milhão. "As operações são legais e respeitam as leis uruguaias", afirma ele.
Polak, segundo os documentos a que a Folha teve acesso, é o contador responsável pela criação de várias outras empresas do Banco Marka.
Polak confirma a existência de pelo menos uma, a Compagnia Verali S/A. "Mas não sei de quem é, nem a natureza de suas atividades", disse. "Monto as empresas e o que acontece com elas, depois, é tema em que não me envolvo. Se a empresa vai falsificar tênis e fazer outras operações irregulares, não é problema meu."
Há várias empresas no Uruguai que vivem de prestar serviços para a criação dessas empresas de fachadas, as "paper companies". Enrico di Nicola Siena, que nos documentos a que a Folha teve acesso já foi representante da Federal Town International, diz que é representante de várias empresas, mas, segundo ele, quem tem as informações completas sobre essas empresas é a KPMG Uruguai.
Também a diretoria da Federal Town International foi fornecida por uma consultoria uruguaia. Marta Otero, a presidente da empresa, Judith Vieira Gazolo e Graciela Beatriz Sabela (as duas últimas constam como diretoras da Federal Town International) são, na realidade, funcionárias da empresa Lublinerman.
O dono da empresa, Israel Lublinerman, diz que ela tem sete sócios e há mais de 40 anos opera na área de constituição de empresas e reformas estatutárias. "Muitas vezes nem sequer sabemos quem são os clientes que nos contratam", disse ele.
Abrir uma empresa no Uruguai, um paraíso fiscal, é tão simples como no Brasil. Bastam algumas referências comerciais, um endereço e a nomeação de uma diretoria, entre outras providências burocráticas. Mas todos os dados das empresas constituídas são guardados a sete chaves. O cartório de registro comercial não fornece os registros das empresas sem a autorização das mesmas.
(OP)


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