São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Partido de Lula vai explicar expressões polêmicas como "ruptura"

PT faz "operação limpeza" em programa de governo

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT se prepara para fazer uma operação de "limpeza" no texto que dará as linhas mestras do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Termos que causaram apreensão em empresários e foram explorados por adversários serão "melhor explicados" -ou simplesmente substituídos por outros mais palatáveis- no documento que sai no final do mês.
Segundo os petistas, não se trata de mudar a essência do que foi decidido no Encontro Nacional de Recife, em dezembro último, quando um texto de diretrizes para o programa, que baseia o documento em gestação, foi aprovado.
Haveria apenas a "clarificação" de propostas petistas, com uma alteração na linguagem e na forma. Na berlinda está, em primeiro lugar, o termo "ruptura", que consta do título do documento de Recife e aparece outras três vezes.

Inabilidade
Reservadamente, petistas admitem que houve inabilidade em jogar este conceito no texto sem grandes explicações, o que deu margem à interpretação de que Lula quebraria contratos.
"Vamos esclarecer as coisas, de modo que não haja dúvidas. Não queremos romper com a estabilidade, queremos romper com uma tendência secular dos governos brasileiros de fazer desenvolvimento excludente", diz o coordenador do programa de governo do PT, Antônio Palocci Filho.
Adversários de Lula têm apontado a suposta imprevisibilidade nas ações do petista como uma das raízes para turbulência no mercado financeiro.
Na semana passada, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, culpou a eleição pela fuga de capitais de fundos, dizendo que "o mercado teme não haver continuidade na condução das políticas cambial, fiscal ou monetária".
Para Palocci, o novo texto trará apenas "mudança de enfoque". "Não vai nem pode haver contradição entre os documentos", diz.
Outros trechos do texto de Recife pedem a "denúncia" do acordo com o FMI, falam em auditar privatizações e até mencionam a defesa do socialismo democrático.
Em reunião na Federação das Indústrias de São Paulo em maio, líderes petistas foram cobrados sobre o real significado dos termos e tiveram de se explicar.
O documento aprovado em Recife é, a bem da verdade, produto do amplo domínio dos moderados sobre o partido. Não há nele referências a reestatização, defesa de calote ou retórica antiimperialista. A terminologia forte de alguns extratos foi uma concessão à militância, tradicionalmente mais influenciada pelas alas radicais.
"O texto de diretrizes tem componente emocional, para o debate interno. O programa final será comunicação com a sociedade. O conteúdo será o mesmo, mas não se usarão termos que podem dar duplo sentido", diz Guido Mantega, assessor econômico de Lula.
Segundo ele, é pouco provável que o termo "ruptura" reapareça no texto final, mas isto ainda não está decidido. Poderá ser substituído por "transformação" ou "mudança de paradigma". "Dizer ruptura parece que você vai botar fogo. Jogado, assusta um pouco."
Outro porta-voz econômico do PT, Aloizio Mercadante, diz que "muitos não quiseram entender o que está escrito". "Vamos romper com o modelo concentrador de renda e de crescimento medíocre, não com o sistema capitalista." Ele diz que a proposta será "traduzida" de outra forma agora.

Empresários
Para o diretor da Fiesp Mário Bernardini, ruptura é uma "palavra difícil". "As pessoas bem informadas sabem o que o PT quer dizer, mas elas não são a maioria", diz ele -ressalvando falar em nome pessoal e não pela entidade.
Maurílio Biagi, dono de uma das maiores usinas de açúcar e álcool do Estado, vai na mesma linha. "Conheço o Lula e sinto confiança. Mas quem não conhece se assusta com essa tal ruptura."



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