São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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DATAFOLHA

Melhora a avaliação do Plano Real; para 57%, a situação econômica tem grande influência na definição do voto

Cresce a confiança, apesar da turbulência

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aumentou o número de brasileiros que demonstram estar mais confiantes em relação ao futuro imediato da economia do país. É o que revela pesquisa do Datafolha realizada na sexta-feira.
O resultado da consulta parece surpreendente por coincidir com o fim de uma semana marcada pela turbulência no mercado financeiro, com a disparada da cotação do dólar, a queda da Bolsa de Valores e a desvalorização de fundos de investimento. Mas a maioria não é afetada diretamente por essas variantes.
A pesquisa teria captado mais os efeitos da maior exposição do pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra, que se esforçou em defender a política econômica do governo de Fernando Henrique Cardoso.
A proporção dos mais otimistas -que acham que a situação econômica do país vai melhorar- subiu de 24% para 27%, embora tenha ficado dentro da margem de erro, que é dois pontos percentuais para cima ou para baixo. A porcentagem dos pessimistas diminuiu de 33% para 28%.
O resultado intensifica a tendência registrada na pesquisa anterior, de dezembro de 2001.
A percepção do estado da economia é importante na definição do voto para a maioria da população: 57% dizem que a influência é grande; 22%, que é pequena.
A economia tem sido decisiva em eleições presidenciais. Em 1992, quando Bill Clinton se elegeu presidente dos EUA, entrou para a história uma frase de James Carville, seu marqueteiro: "É a economia, estúpido".
A sugestão era para que Clinton, candidato de oposição, explorasse na campanha o mau momento por que passava a economia dos Estados Unidos.
Para citar um exemplo mais próximo, o presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito pela primeira vez, em 1994, devido ao sucesso do Plano Real.

Imagem do Real
A maior expectativa positiva é consistente com a avaliação do Plano Real, que foi um pouco melhor. Neste ano, a parcela dos que consideram o plano bom ou ótimo pulou de 42% para 46%, enquanto a proporção dos críticos, que acham o plano ruim ou péssimo, diminuiu de 21% para 17%.
O nível de aprovação do Plano Real é, desconsiderada a margem de erro, o mais alto desde o período que antecedeu a desvalorização da moeda, em janeiro de 1999. Um mês antes chegara a 61%.
A pesquisa também identificou melhora na perspectiva popular em relação ao desemprego, inflação e poder de compra. Nos três itens, o fundo do poço parece ter sido atingido em meados do ano passado. De lá para cá, tem havido um pouco mais de esperança.
A curva é mais acentuada no caso do desemprego. Um ano atrás, 72% dos entrevistados acreditavam que o desemprego aumentaria. Eles tinham razão: no período, a taxa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) pulou de 6,4% da força de trabalho para 7,6% em abril, segundo o último dado disponível. Agora, a porcentagem dos que acham que o desemprego ainda subirá passou para 56%.

Preços e compras
A hipótese da população sobre o comportamento dos preços obedece ao mesmo padrão, de acordo com os números do Datafolha. A maioria continua prevendo inflação maior para os próximos meses, mas a proporção dos pessimistas se mantém em queda. Neste ano, a porcentagem diminuiu de 63% para 58%.
Com mais pessoas acreditando que a situação do desemprego e da inflação não irá se deteriorar, é natural que tenha havido melhora na evolução da expectativa do poder de compra.
Foi de dez pontos percentuais a redução da parcela dos que acham o poder de compra vai diminuir: passou de 43% em dezembro do ano passado para 33%. Na outra ponta, a proporção dos que acreditam que o poder aquisitivo vai aumentar passou de 24% para 27%.

Renda insuficiente
A opinião mais favorável sobre o estado geral da economia não significa que o entrevistado se veja como beneficiário de uma eventual melhora da situação.
É ilustrativo desse distanciamento o quadro com as respostas sobre a avaliação da situação do próprio entrevistado.
A proporção dos que acreditam que vão melhorar economicamente diminuiu de 41%, em dezembro do ano passado, para 38%. Agora não são mais a maioria. A maioria relativa (41%, contra 37% na pesquisa anterior) acha que tudo vai ficar como está. Ainda que dentro da margem de erro, os dois grupos inverteram a posição. O número dos que acham que a situação vai piorar se manteve estável em 17% (era 18% no final do ano passado).
A pesquisa Datafolha também confirma que a grande maioria continua tendo sérias dificuldades econômicas.
Somando-se a porcentagem dos que dizem que o poder aquisitivo da família não é suficiente (39%) com os que afirmam que a renda familiar é muito pequena (38%), tem-se quase quatro quintos dos entrevistados.
Pouco mais de um quinto dos consultados (21%) responderam que a família ganha exatamente o que precisa para viver. E só 2% têm mais do que o suficiente.



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