São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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Para 56%, Brasil pode virar Argentina

DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil pode virar uma Argentina. É o que teme a maioria dos entrevistados pelo Datafolha.
O grau de temor varia: é grande para 15%; pequeno para 13%; médio para 28%. Tudo somado, são 56% os que acham que o Brasil pode seguir a rota que levou o país vizinho à crise atual.
Se esse cenário se materializasse, quem seria o principal responsável pelo desastre?
A maioria relativa (37% dos que acreditam que haja algum risco) atribuiria a culpa ao presidente Fernando Henrique Cardoso.

Visão de FHC
O resultado mostra que a população, em grande parte, não compartilha da opinião do presidente. No mês passado, ele insinuou que esse risco depende de mudanças políticas. "Se você não tiver competência -e eu não quero divulgar quem tem e quem não tem- e se não tiver respeitabilidade para fazer e coragem para tomar decisões difíceis, desanda", afirmou.
Menos de um quinto dos entrevistados (18%) concordaria com a tese de Fernando Henrique Cardoso. Para essa parcela da população, uma crise como a da Argentina seria atribuída à vitória de um candidato de oposição.
Outras respostas procuraram um culpado fora do país. Houve quem citasse o Fundo Monetário Internacional (17%) e a globalização da economia (15%).
Para quase um terço dos consultados (31%), não há a menor possibilidade de o Brasil repetir a Argentina.
A crise no principal parceiro do Brasil no Mercosul não gera interesse em grande parcela da população. Nada menos do que 40% disseram não ter conhecimento da crise argentina.
Os dois países têm características em comum e, do ponto de vista do investidor estrangeiro, são percebidos como partes de uma mesma realidade econômica.

Realidades diferentes
Os entrevistados que não crêem numa crise da mesma proporção que a da Argentina, no entanto, encontram respaldo na opinião de economistas.
O principal argumento contrário à contaminação do Brasil pela crise argentina é a diferença do sistema cambial. Enquanto o Brasil desvalorizou o real em janeiro de 1999, a Argentina manteve a paridade em relação ao dólar até que a situação se tornasse totalmente insustentável.
O câmbio no Brasil também esteve artificialmente sobrevalorizado, mas a mudança da política cambial -ainda que sob pressão do capital estrangeiro- permitiu uma acomodação mais rápida à nova realidade.
Outra diferença é que, no Brasil, o governo ofereceu às empresas endividadas em dólar a chance de se proteger contra a desvalorização. Os que desconfiaram da mudança na regra do jogo puderam comprar títulos cambiais. (OP)



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