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Escuta mostra que Morelli negociou caça-níqueis
Na fitas da Polícia Federal, ele xinga Vavá e afirma que corrompeu policiais
Morelli dá entender nas gravações da PF que, por causa das suas relações
com o PT, estaria isento de investigações policiais
DA AGÊNCIA FOLHA EM CAMPO GRANDE
DO ENVIADO A CAMPO GRANDE
Dario Morelli Filho, compadre do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, chegou a falar por
telefone, em março passado,
até com um presidiário sobre o
negócio dos caça-níqueis. Na
mesma conversa, afirmou que
compra máquinas do jogo.
O diálogo foi gravado pela
Polícia Federal, que monitorou
as ligações de Morelli de março
a maio deste ano. A investigação fez parte da Operação Xeque-Mate.
Em diferentes diálogos telefônicos com o seu suposto sócio
no negócio, o empresário Nilton Cezar Servo, Morelli diz
que corrompe policiais, avalia
que "uns [juízes] têm que morrer mesmo", menciona acreditar que seu "nome" intimida investigações.
A um contador, também por
telefone, pede o documento
"do bingo", onde estão os caça-níqueis, aberto em nome de um
laranja em Ilhabela (SP), segundo a Polícia Federal. Em
outra conversa, Morelli xinga
Genival Inácio da Silva, o Vavá,
irmão de Lula.
As conversas de Morelli estão em um relatório de escutas
telefônicas feitas pela PF, com
autorização judicial, obtido pela Folha. Morelli e Servo foram
presos e indiciados sob suspeita de corrupção ativa, formação
de quadrilha, contrabando de
eletrônicos dos caça-níqueis e
falsidade ideológica por serem,
segundo a PF, sócios ocultos da
casa de caça-níqueis aberta em
nome de laranja.
A maioria das conversas de
Morelli, gravadas pela PF, é
com Servo. Mas existem diálogos incomuns. A PF identifica
como "presidiário não-identificado" o interlocutor de Morelli
no dia 29 de março, às 14h42.
Presidiário
"Como é o esquema lá que
você montou?", pergunta o presidiário, que falaria de dentro
da cadeia.
"São máquinas, aquele salão
de máquinas de vídeo-bingo
(...). Estou com 30 máquinas.
(...). Amanhã vou por mais 30
em São Sebastião (...). Vou
montar em Manaus, já está tudo acertado", responde Morelli. O presidiário pede um emprego no negócio e diz que vai
fugir. "Não. Você pode esperar
mais que tem lugar para você
depois de puxar [cadeia]", afirma Morelli.
As conversas entre Morelli e
Servo, seu suposto sócio na
área de jogos, são freqüentes.
Em uma delas, de 2 de abril,
Morelli diz a Servo: "Eu acho
que agora o que tem que fazer é
a mesma coisa que nós fizemos
com os nossos amigos policiais.
Você fez a proposta e espera
eles ligarem. Quando chegar o
dia 2, a gente paga os dois e
meio [R$ 2.500]". A PF diz que
a conversa "deixa claro que ambos [Servo e Morelli] cometeram crime de corrupção ativa
ao oferecer dinheiro (propina)
para policiais".
Além do negócio dos caça-níqueis, Nilton Servo fala sobre
ações judiciais. Em telefonema
no dia 19 de abril, reclama de
uma decisão da Justiça de Bonito (MS), que o condenou a pagamento de multa.
Morelli responde ao sócio:
"Quando começa a morrer juiz,
todo mundo fica preocupado.
Mas não tem uns que têm que
morrer mesmo?". "É verdade",
diz Servo.
(HUDSON CORRÊA ERUBENS VALENTE)
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