São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

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Escuta mostra que Morelli negociou caça-níqueis

Na fitas da Polícia Federal, ele xinga Vavá e afirma que corrompeu policiais

Morelli dá entender nas gravações da PF que, por causa das suas relações com o PT, estaria isento de investigações policiais


DA AGÊNCIA FOLHA EM CAMPO GRANDE
DO ENVIADO A CAMPO GRANDE

Dario Morelli Filho, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a falar por telefone, em março passado, até com um presidiário sobre o negócio dos caça-níqueis. Na mesma conversa, afirmou que compra máquinas do jogo.
O diálogo foi gravado pela Polícia Federal, que monitorou as ligações de Morelli de março a maio deste ano. A investigação fez parte da Operação Xeque-Mate.
Em diferentes diálogos telefônicos com o seu suposto sócio no negócio, o empresário Nilton Cezar Servo, Morelli diz que corrompe policiais, avalia que "uns [juízes] têm que morrer mesmo", menciona acreditar que seu "nome" intimida investigações.
A um contador, também por telefone, pede o documento "do bingo", onde estão os caça-níqueis, aberto em nome de um laranja em Ilhabela (SP), segundo a Polícia Federal. Em outra conversa, Morelli xinga Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão de Lula.
As conversas de Morelli estão em um relatório de escutas telefônicas feitas pela PF, com autorização judicial, obtido pela Folha. Morelli e Servo foram presos e indiciados sob suspeita de corrupção ativa, formação de quadrilha, contrabando de eletrônicos dos caça-níqueis e falsidade ideológica por serem, segundo a PF, sócios ocultos da casa de caça-níqueis aberta em nome de laranja.
A maioria das conversas de Morelli, gravadas pela PF, é com Servo. Mas existem diálogos incomuns. A PF identifica como "presidiário não-identificado" o interlocutor de Morelli no dia 29 de março, às 14h42.

Presidiário
"Como é o esquema lá que você montou?", pergunta o presidiário, que falaria de dentro da cadeia.
"São máquinas, aquele salão de máquinas de vídeo-bingo (...). Estou com 30 máquinas. (...). Amanhã vou por mais 30 em São Sebastião (...). Vou montar em Manaus, já está tudo acertado", responde Morelli. O presidiário pede um emprego no negócio e diz que vai fugir. "Não. Você pode esperar mais que tem lugar para você depois de puxar [cadeia]", afirma Morelli.
As conversas entre Morelli e Servo, seu suposto sócio na área de jogos, são freqüentes. Em uma delas, de 2 de abril, Morelli diz a Servo: "Eu acho que agora o que tem que fazer é a mesma coisa que nós fizemos com os nossos amigos policiais. Você fez a proposta e espera eles ligarem. Quando chegar o dia 2, a gente paga os dois e meio [R$ 2.500]". A PF diz que a conversa "deixa claro que ambos [Servo e Morelli] cometeram crime de corrupção ativa ao oferecer dinheiro (propina) para policiais".
Além do negócio dos caça-níqueis, Nilton Servo fala sobre ações judiciais. Em telefonema no dia 19 de abril, reclama de uma decisão da Justiça de Bonito (MS), que o condenou a pagamento de multa.
Morelli responde ao sócio: "Quando começa a morrer juiz, todo mundo fica preocupado. Mas não tem uns que têm que morrer mesmo?". "É verdade", diz Servo. (HUDSON CORRÊA ERUBENS VALENTE)

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