São Paulo, Quarta-feira, 09 de Junho de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Instituição atribui erros a bancos; procurador teme que novo documento seja "maquiagem de ilícitos"
BC repassou lista de remessas com erro

da Sucursal de Brasília

e da Agência Folha
O Banco Central repassou à Justiça uma lista com erros nos nomes de pessoas e empresas que enviaram recursos ao exterior pelas chamadas contas CC-5. Segundo o chefe do Departamento de Câmbio do BC, José Maria Carvalho, havia incorreções na identificação das pessoas que remeteram dinheiro e nos números de CPF e de CGC da listagem.
O procurador da República em Cascavel (PR), Celso Antônio Três, 36, que obteve a lista por medida judicial, afirmou que, se ""houver uma nova lista, será a prova cabal de que o Banco Central não é confiável". Declarou ainda temer que ""uma nova lista possa estar maquiada, para escamotear ilícitos".
A lista mostra que, entre 1992 e 1998, foram enviados para fora do país R$ 104,1 bilhões por empresas e instituições financeiras e R$ 7,5 bilhões por pessoas físicas. Segundo o BC, esses números estão corretos.
Celso Três foi informado da nova lista do Banco Central pela Agência Folha. ""Isso é uma brincadeira. Se for uma tentativa de maquiar a lista, eles (Banco Central) irão se dar mal. Vou cruzar uma a uma as remessas. Uma nova lista só vai confirmar publicamente o que sempre tenho afirmado: o Banco Central não é confiável. Não existe a mínima confiabilidade", afirmou.
O procurador ganhou na Justiça o acesso à lista porque investigava a lavagem de dinheiro na fronteira do Brasil com o Paraguai.
O chefe do Departamento de Câmbio afirmou que a responsabilidade pelos erros é dos bancos que preencheram os formulários eletrônicos enviados ao BC. Ele disse não ter identificado, até agora, má-fé no procedimento dos bancos, mas apenas falha humana no preenchimento dos formulários.
Carvalho declarou que o erro mais comum é a troca do CPF ou CGC do remetente dos recursos pelo CGC do próprio banco -e vice-versa.
Citou o caso de uma empresa de factoring que, pela listagem anterior enviada à Justiça, havia remetido quase R$ 1 bilhão ao exterior. O BC fez uma checagem dos valores e verificou que, na realidade, a remessa dessa empresa foi pouco superior a R$ 30 mil. A diferença se referia a remessas do próprio banco. O superdimensionamento dos valores remetidos pela empresa de factoring teria se originado na confusão entre o CGC da empresa e o do banco.
Três disse que já rastreou a empresa e descobriu que ""seus diretores são diretores do banco que empresta o CGC". ""O mais grave é que esses diretores, quatro no total, desligaram-se da factoring depois das remessas, em uma situação no mínimo estranha", afirmou.
Para Carvalho, é aceitável que o BC só tenha constatado falhas depois que elas ocorreram, pois, segundo ele, há 206 mil registros de envio pelas contas CC-5.
O procurador afirmou que a justificativa de Carvalho ""é ridícula". Segundo ele, vai chegar ""o momento em que o Banco Central vai culpar um programa de computador pelas remessas ilegais de dinheiro para o exterior".
Três está cobrindo férias na Procuradoria da República em Guarapuava (oeste do Paraná) e disse não ter sido informado oficialmente da nova lista até a tarde de ontem.
Desde que conseguiu a lista das remessas em conta CC-5 para o exterior, Três mantém um funcionário da Procuradoria em Cascavel na Receita, checando as empresas que enviaram remessas ao exterior e a sua situação fiscal.


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